O câncer trás perdas...
As “perdas” já começam com a chegada da notícia. Perda de rumo, de certezas e convicções. Surgem medos e inseguranças, conflitos e questionamentos. O tempo para e a vida passa depressa na cabeça, como um filme. Começa, então, uma rotina de exames, de idas e vindas a médicos, laboratórios, clínicas e hospitais. Muitas vezes, adentra-se, pela primeira vez, neste universo obscuro e distante do cotidiano. Começa uma corrida contra o tempo.
Perde-se o controle da vida.
A vida toma outra direção e passa a ser habitada por pessoas e locais diferentes. Surge um novo vocabulário, complexo e desconhecido, de nomes grandes e esquisitos, laudos, biópsias e resultados. Perdem-se os dias passados dentro de um hospital, numa fila de espera, nas idas e vindas dos papéis, autorizações, agendamentos e cancelamentos. Sim, perde-se a autonomia, o “ir e vir” livremente. Perde-se um dia de trabalho ou muitos dias, perde-se a capacidade de trabalhar. Perde-se o controle da vida e do corpo. Perde-se a noção do tempo e a certeza de quanto tempo ainda lhe resta. Vão-se embora os conhecidos e faz doer a perda dos que eram “amigos”.
Perde-se as roupas que já não cabem, perde-se o apetite, o cabelo, a pele corada, às vezes a aparência saudável. Perde-se um pedaço ou até um órgão inteiro. Mas, afinal, perde-se realmente tudo? Não, não e não!
O câncer pode trazer como ganho a família que se une, que divide o fardo e que se ajuda mutuamente para que todos consigam seguir em frente. Ganha-se com lágrimas que não são choradas sozinhas, mas divididas com aqueles que mais amamos. Ganha-se FÉ, porque se descobre pequeno, frágil e totalmente dependente de Deus.
Ganha-se com a presença de Jesus, que NUNCA abandona quem d’Ele precisa.
Ganha-se novos amigos e uma nova família: a filha da senhora que está ao lado, as enfermeiras que se revezam nos cuidados, a senhora que senta ao lado na sala da quimioterapia e que uma conforta a outra ou aquela moça que caminha pelo corredor em direção ao seu primeiro acesso, tendo a expressão nos olhos de medo e insegurança.
Ganha-se uma nova oportunidade de vida e para muitos, quando pensamos que tudo isso era abismo, observamos que Deus e o mundo na verdade estão nos ensinando a voar para uma nova oportunidade de vida.
Cecília Fuli, técnica em radiologia, professora de educação física, modelo e Musa da Baixada Fluminense e região da Costa Verde 2021