quinta-feira, 6 de maio de 2021

8 atitudes que você deve evitar ao lidar com pessoas deprimidas

 


Quando a depressão se instala, o apoio e a compreensão de amigos e familiares é primordial. Acontece que, na ânsia de ajudar, muita gente acaba cobrando ações ou reações que o deprimido é incapaz de ter; ou ainda, mesmo sem perceber, repercutindo preconceitos e ideias equivocadas que só geram culpa e atrapalham o tratamento da doença, piorando o estado psíquico do paciente. Confira, a seguir, atitudes a evitar:

1. Forçar uma postura "good vibes"

"Sai dessa", "pense positivo", "seja forte"... Se for para proferir frases assim, melhor não dizer nada. Tudo bem que, em alguns casos, a intenção pode ser boa e o objetivo, incentivar. Porém, muitas vezes a pessoa deprimida está destruída internamente e, mesmo assim, tentando lutar. A insistência em encorajá-la e em levá-la a ver o lado positivo das coisas pode ser não só desrespeitosa, mas inútil. Quem tem depressão vê a vida na cor cinza, ou seja, quase sem cor. É uma visão distorcida da realidade. Com o tratamento adequado, é possível retomar o interesse pelas coisas e notar cores mais alegres.

2. Questionar sorrisos 

Falar à pessoa que "nem parece" que ela está doente, pois a viu sorrindo, é uma besteira sem tamanho. Uma gargalhada diante de um meme divertido ou demonstrar alegria por algum acontecimento são reações e estados de ânimo passageiros, e não um diagnóstico do humor total de quem sofre de depressão. Isso não quer dizer que a pessoa vem se sentindo feliz.

As pessoas deprimidas podem ter oscilações de humor: ora parecem menos tristes, ora ficam irritadas e em outros momentos tudo indica que estão bem. E mais: dizer para um deprimido sorrir ou se animar pode ser bom quando ele está bem no início da doença ou já em franco tratamento, pois rir produz serotonina (neurotransmissor responsável pela sensação de bem-estar). No entanto, a depressão afeta a produção dessa substância e exige o uso de medicamentos adequados.

Rir não é algo necessariamente vinculado à felicidade e ao prazer. Muitas vezes as pessoas reagem de modo não condizente com o que estão sentindo. Aliás, em certas situações o riso pode significar ansiedade pelo fato de alguém não saber lidar com o que está ocorrendo. Questionar uma risada é uma forma de acusação muito desconcertante e inadequada que sugere, inclusive, fingimento por parte do paciente.

3. Comparar a depressão com situações tristes

Se você convive com alguém deprimido, evite fazer comparações com situações ruins como "pense na fome na África" ou "pelo menos você não perdeu ninguém para o covid-19". Saiba que uma pessoa deprimida já se sente imensamente culpada por não conseguir ativar os mecanismos cerebrais para lidar com tais eventos. Desvalorizar o sofrimento imposto pela depressão não ajuda em nada, pelo contrário, só atrapalha, pois pode gerar mais culpa. O fato é que a dor vivenciada é profunda e desqualificá-la é um erro gravíssimo.

4. Dizer que sabe como a pessoa se sente 

Apesar de ser uma tentativa de mostrar empatia, essa atitude só é válida —e mesmo assim com ressalvas, pois cada caso tem suas particularidades — se incluir o relato de uma vivência pessoal da doença. Caso contrário, agir assim pode induzir na pessoa deprimida um sentimento de impotência ou culpa por não conseguir lidar com os sentimentos como o interlocutor.

Falar "eu sei como você se sente" é uma afirmação que pode soar como desprezo. Somos seres individualizados, não sentimos as coisas da mesma forma. O mesmo fato terá uma repercussão e um significado diferente na vida de duas pessoas que o estiverem vivenciando ao mesmo tempo. Portanto, não, ninguém sabe como o outro se sente.

5. Contestar o uso de medicamentos 

Raramente o uso de remédios para diabetes, hipertensão ou algum mal cardíaco é questionado - inclusive, parentes, amigos e colegas de trabalho costumam cobrar o comprometimento e a continuidade de sua ingestão. Por mais que as informações sobre a depressão e seus desdobramentos, como o risco de suicídio, sejam discutidas e divulgadas à exaustão, muita gente ainda revela preconceito em relação à doença.

Não são poucas as pessoas que se dispõem a criticar alguns efeitos colaterais iniciais dos antidepressivos, como tontura e dor de cabeça, ou a reclamar sem conhecimento de causa sobre sua eficácia ou necessidade. É fundamental frisar que a medicação atua nas alterações bioquímicas da doença e que, em certas situações, é preciso combinar os remédios, já que existem mais de 70 tipos de depressão com todas as suas condições associadas. Só o psiquiatra deve prescrever e supervisionar o uso de antidepressivos, cujos efeitos variam de paciente para paciente. 

6. Insistir para a pessoa a sair de casa ou realizar alguma atividade 

A depressão tem aspectos químicos que impactam na motivação e na disposição e roubam a energia. Um de seus sintomas é o isolamento. E, para quem tem a doença, a sensação de fraqueza e cansaço pode ser muito grande, associada à vontade nula de sair da cama de manhã para mais um dia —ainda mais se envolver interações sociais. Teimar para que a pessoa saia ou faça atividades pode causar sentimento de culpa por não encontrar forças dentro dela. E incentivar alguém deprimido a sair de casa somente será produtivo se o interlocutor participar, acolhendo e valorizando cada pequeno progresso.

7. Falar para a pessoa procurar "ocupar a cabeça"

A depressão conta com alterações cerebrais e fisiológicas que independem de fatores externos. Um de seus sintomas mais limitantes é a falta de foco, que acontece em diferentes níveis e muda de pessoa para pessoa. Essa dificuldade em se concentrar adiciona um obstáculo a mais para o depressivo ser ativo. Por essa razão, pedir para quem tem depressão "ocupar a cabeça" pode ser entendido como uma crítica por ele "ser preguiçoso", fazendo com que se sinta pior por perceber que não consegue agir de modo diferente.

Além do mais, "ocupar a cabeça" é uma expressão vaga que pressupõe cabeça vazia. Acontece que na depressão os pensamentos negativos já ocupam a mente por serem impositivos e repetitivos. O que faz a diferença é se o paciente está preenchendo a mente qualitativamente ou não, sendo que muitas vezes ele sequer consegue livrar-se do pessimismo e da negatividade que povoam os seus pensamentos.

8. Comentar algo como "você está assim porque não se cuidou" 

Essa colocação aumenta o sentimento de culpa, que naturalmente acomete os pacientes deprimidos. Eles já costumam se responsabilizar pelo quadro que os aflige. Ao contrário de outros transtornos nos quais o mal é percebido fora de si, no caso da depressão o problema é situado internamente, o que pode promover situações autoagressivas e até mesmo o suicídio. Muitos têm em sua genética a predisposição para o desenvolvimento da doença, e por mais que "se cuidem", ainda assim adoecem. Por exemplo: uma associação entre queda de hormônios devido à idade, momento da aposentadoria e predisposição genética são diferentes fatores que, associados, podem levar ao adoecimento. Depressão não é tristeza, mas sim um quadro psíquico que exige tratamento e outros cuidados especiais. 


Dicas para ajudar com empatia 

1 - Em vez de tentar contribuir com sugestões, proponha ajuda real. Perguntas como "posso acompanhar você ao seu médico?" ou "quer conversar sobre isso?" podem fazer total diferença;

2 - Mostre-se disponível para ouvir a pessoa. Exercite a escuta sem cobranças e ofereça suporte e acolhimento sem julgamentos. Ficar ao lado sem dizer nada muitas vezes tem um grande valor e transmite a mensagem de que você se importa;

3 - Se não puder fazer nada, dê um abraço e diga o quanto gosta da pessoa; 

4 - Faça-se presente. Estar perto é a melhor ajuda, mesmo que seja para fazer nada; 

5 - Compreender e validar o que a pessoa está sentindo é fundamental;

6 - Tenha paciência e mantenha a calma, principalmente quando há oscilações de humor. Saiba lidar objetivamente com os sintomas e aceitar as limitações apresentadas pelo paciente;

7 - Não minimize nem ignore comentários alarmantes ou suicidas;

8 - Cada progresso deve ser reforçado positivamente, por mais que para você seja algo simples como fazer a barba, por exemplo. Diante de metas simples e alcançáveis, o paciente não se sente culpado e amplia progressivamente o seu repertório até ter condições de executar atividades de maior complexidade.

Fontes: Alfredo Toscano, psiquiatra, psicoterapeuta e docente da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo; Elaine Di Sarno, psicóloga especializada em Avaliação Psicológica e Neuropsicológica e em Terapia Cognitivo-Comportamental, ambas pelo Ipq-HCFMUSP (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), onde trabalha como pesquisadora e colaboradora do PROJESQ (Projeto Esquizofrenia); Flávia Teixeira, psicóloga pós-graduada em Psicossomática Contemporânea e docente do curso de pós-graduação em Psicologia Hospitalar da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro); e Sérgio Tamai, coordenador científico do Departamento Científico de Psiquiatria da APM (Associação Paulista de Medicina).