Ela se descobriu mulher e hoje vive feliz, não apenas com aquele jargão de que "saiu do armário", mas na verdade, que renasceu como uma borboleta, saindo do casulo.
O CULTURARTE conversou e conheceu a jovem Rebecca Requena de Abdalla (21) que fez grandes revelações, contou sua história e trouxe uma nova luz para muitos e muitas que passam por tudo o que ela passou e ainda está passando, mas com um só propósito: se superar, se valorizar e SER FELIZ! Ela conta sua história para os leitores do CULTURARTE:
REBECCA: "Oi gente, primeiro muito obrigada em por cederem este precioso espaço para eu poder falar, gritar, chorar e sorrir. É bom saber que aqui temos uma mídia que nos respeita, que respeita e valoriza o ser humano, independente do seu gênero, raça, credo ou classe social.
Bom quem sou ? Me chamo Rebecca Requena de Abdalla sou MULHER, tenho 21 anos sou da cidade de João Pessoa na Paraíba nascida e criada lá até os 10 anos de idade.
Como me descobri mulher trans?
Bom eu não me descobri, eu nasci um mulher mais em um corpo diferente do que era pra mim ter vindo ao mundo.
Enfim, ao longo de minha infância eu sempre gostei de brincar, de mãe e filhos com meus primos e sempre fui a mãe, sempre gostei de bonecas e de me vestir de menina, aos 14 anos de idade meu lado feminino veio a florescer bastante, daí veio comigo a bissexualidade, e confesso que foi a minha melhor fase da vida.
Meus pais por serem nordestinos nunca aceitaram minha opção sexual muito menos minha transição. Mas antes de começar sobre minha mudança vamos lá no meu passado, onde eu mais sofri por não ter o amor de mãe que toda criança sonha em ter, meus pais biológicos foram casados até meus 8 anos de idade, onde meu pai largou tudo e veio ao tão sonhado Rio de Janeiro, onde veio em busca de uma jornada de sobrevivência mais próspera.
Desde exatamente essa data 14 de abril de 2009, meu pai veio em busca de uma vida melhor no Rio de Janeiro, e eu juntamente à minha mãe e mais dois irmãos por parte de mãe ficamos no nordeste, onde eu esperava ansiosamente pelo tão sonhado dia de conhecer o Rio.
Foi aí que o rumo da minha vida começou a tomar um rumo horrível. Chegando no Rio e completado um ano na 'cidade maravilhosa', já com a vida estável, meu pai biológico - senhor Sebastião - mandava grande parte de seu salário para minha mãe biológica - senhora Dalvanira -, e ai, tudo começou a mudar. Minha mãe conheceu uma pessoa ao qual nunca soube o nome, um ex-presidiário onde ela se apaixonou, e deu um rumo diferente em nossas vidas.
Ao se passar 3 meses, eu descobri esse relacionamento de minha mãe biológica, onde ela torrava toda minha grana da pensão que meu pai mandava, com o ex-presidiário. Meu pai acabou descobrindo e ligou para ela reclamando e meu pai me prometeu me trazer para o Rio de Janeiro assim que ele tivesse um pouco mais firme na empresa onde inclusive, trabalha até os dias de hoje.
Quando completei 09 anos de idade, minha mãe me largou para viver o seu romance, me deixou debaixo de chuva sem conhecer nada, até aparecer um anjo que foi um moto taxista que era conhecido de uma tia minha, e me levou a casa dessa tia, onde fiquei 3 anos morando.
Passados 5 meses, meu pai mandou me buscar e buscar seu primeiro amor, a senhora é minha mãe eterna - Josenice. Essa mulher transformou minha vida!
Aos 17 anos comecei a conhecer novos horizontes novas pessoas, mas meus pais nunca souberam de minha real sexualidade.
Até 2018 eu me relacionava com meninos e meninas. Foi onde uma tia minha entrou na história, e essa tia sempre soube de minha opção sexual, e sempre me incentivou a escolher o melhor caminho a ser trilhado, até eu ir a um evento LGBTQIA+ no mesmo ano, que ela resolveu contar aos meus pais e explicar sobre minha sexualidade, onde eu sou grata por ter tentado abrir os olhos deles sobre minha pessoa.
Um dia, chegando da escola, meu pai me esperava sentado juntamente com minha madrasta (Josenice) me pedindo explicações sobre o que era que eu queria de minha vida. Foi ai que me abri e falei a seguinte frase para eles: 'eu amo pessoas, eu gosto de beijar bocas gosto de viver'.
Desde de então minha relação com meu pai nunca mais foi a mesma, sempre tive que viver no 'armário' mas dos 18 anos para os 19 anos, resolvi sair pela primeira vez de casa e ir morar com minha irmã, onde me senti um pouco mais livre mas mesmo assim controlada.
Passados uns 7 meses, sai da casa de minha irmã e conheci meu melhor amigo, Edson que deu vida a minha história, Edson na verdade era seu nome de batismo, mas o que ele mais gostava era de ser chamado de Ludmilla Mazikeen.
Um um belo dia resolvemos ir a praia curtir um dia de sol, foi quando resolvi dar vida a Rebecca. Vi ele colocando suas vestes femininas para irmos à praia, e resolvi passar pelo que ele enfrentava nas ruas, e coloquei um belo biquíni e um short curto e fui desfilando ruas à fora, percebi bastante olhares alguns ofensivos e bastantes comentários, e dali não deixei mais essa mulher empoderada chamada Rebecca morrer.
Passados 1 ano e meio, eu e esse amigo decidimos seguir nossa amizade mas cada um em sua casa, até mesmo porque a casa onde morávamos era de um outro amigo nosso, daí voltei a morar com meus pais, e tive que usar novamente trajes masculinos, mas como a Rebecca gritava dentro de mim, sempre dei meu jeitinho de me vestir na casa de amigos ou conhecidos para sair.
Passou-se um ano e um dia, fui a um evento de duas tias minhas emprestadas que hoje são minhas mãe e meu 'pãe', isso mesmo, essas duas mulheres lésbicas mudaram minha vida pra melhor, passei três dias na casa dessas minhas tias e ao passar esses dias voltei para casa. Minhas roupas já estavam à minha espera do lado de fora do portão da casa de meus pais maternos, onde eu não tinha mais nenhuma roupa feminina nas malas pois meu pai tinha queimado todas minhas roupas de menina e só deixou sobrar roupas de menino.
Foi onde corri e pedi abrigo desesperadamente a esses dois anjos Luana e Aline mãe biológica de uma melhor amiga que hoje é minha irmã Victoria.
Hoje sou a mulher mais realizada e feliz da vida por ter mulheres e pessoas maravilhosas ao meu lado e agradeço muito por ter sido convidada a participar da campanha de prevenção ao câncer de mama, sendo a primeira mulher trans a participar desta linda exposição!!"
Ainda na condição de menino, já praticou cross fit e funcional, já fez ballet, jazz e dança contemporânea.
Um dos grandes desejos de Rebecca é ser mulher de verdade e não apenas uma mulher trans, por isso já começou a se preparar através de tratamentos para em breve fazer a cirurgia de transformação.
Atualmente solteira, vive feliz e plena e é claro, tem seus ficantes, mas se cuida, se respeita e valorização tanto seu corpo como seu ser.
Essa é Rebecca Requena de Abdalla, MULHER SIM!!!