Quando a vida está passando por você, e não há tempo para senti-la e os anos se completam, é preciso renascer antes que tudo acabe!!!
Sim 'tô' muito cansada.
Meus olhos não negam.
Tem sido exaustivo viver.
E fazer de conta que está tudo bem.
Vejo o mundo e não vejo o amor.
O último romântico morreu. E não deixou herdeiros.
Não! Não há gentilezas, delicadezas.
Sinto pena das crianças.
Elas perderem o direito da inocência.
Tenho pena dos meus mais velhos.
Não há quem os peçam a benção.
Hoje mais uma vez me deparei com o sabor da manga espada.
Gosto de sentir seu cheiro. Ela me faz lembrar de Ninha. Gostava de lamber meus braços encharcados de seu caldo. Dos fiapos que ficavam entre os dentes.
Hoje me pediram uma foto mais feliz pois meus olhos estavam tristonhos.
Mas está difícil segurar a alegria. Ela toda hora escapa de mim. Vejo crianças inocentes sendo mortas. Vejo mulheres a todo tempo perdendo seu direito de viver em paz.
Sim! Meus olhos estão cansados. Meus ombros doem por vida. Foi muito peso que carreguei.
Não tive escolha.
Me disseram que era destino. Sina. E eu acreditei. Daí virei guerreira. Mas o que eu queria mesmo era ganhar flores e ser levada ao altar. Ao som de Rosa, de Lupicínio Rodrigues, que minha avó cantava. Sinto saudades dela, de minha tia Ruth e tia Jandira. A vida está se esvaziando. A Praça do Sossego hoje é silenciosa. Passo pouco por lá. Lembrar dói.
Daí, Deus me deu o dom de soltar melodias com palavras que me salvam todos os dias. A música é o maior lenitivo que há.
Mas Ninha! Você é tão bonitinha Ninha!
Faz uma carinha de feliz Ninha.
'Perainda'.
Preciso de vento.
Preciso de mim.
Que é só a mim que tenho.
Enquanto eu chego…
Já visto em Maria meu primeiro vestido. Ela cresceu e eu não vi. 'Tava' carregando o mundo para sobreviver.
Me disseram que era assim e eu acreditei. Mas eu era só uma menina.
Virei guerreira. E me vestia de noiva. Todos os dias.
Vestes brancas bordadas.
Sem flores nas mãos. Nem pedidos de casamento.
Recebi um espelho e uma espada.
Me fiz gente. E a mim mesma me cortei. Bem fundo. E sangrou. E a mim mesma curei.
Mariene de Castro (escritora, cantora e compositora)