Ela nasceu normal, sem problemas aparentes de saúde, tinha uma vida normal, mas um relacionamento conturbado e negado pela família, fez com que um grave acidente de moto acontecesse em dezembro de 2007, o que faria sua vida mudar radicalmente. É ela que conta sua "via crucis".
"Sou Ludmilla, tenho 32 anos, sou de Bangu no Rio de Janeiro e com 17 anos minha vida mudou completamente.
Eu tive uma infância normal e ótima. Eu era uma criança muito comunicativa, não tinha vergonha de nada, era bem falante, fazia amigos em todos os lugares que ia. Eu gostava muito dos almoços em família, de brincar com meus cachorros e ir à praia com meus pais.
No início da minha adolescência, quando eu tinha doze anos meus pais se separaram. Eu fui morar com minha mãe na casa da minha avó materna e meu pai foi para a casa da minha avó paterna. Não seguimos aquele esquema de ficar com o pai aos fins de semana porque eu achava mais interessante ficar no bairro onde estavam meus amigos.
Nessa época comecei a ir mal no colégio e repeti de ano. Comecei a namorar, sair e eu ainda carregava em mim características da criança que fui, eu era uma garota descolada e popular, cheia de amigos que mais tarde eu descobri que eram apenas colegas e/ou conhecidos.
Um dia, um desses colegas, me disse que queria me apresentar um amigo, e embora tivessem varias tentativas frustradas para o tal encontro, nos conhecemos, nos gostamos e começamos a namorar; isso era maio de 2007.
NAMORO CONTURBADO
Nosso relacionamento era bem complicado, cheio de brigas, proibições, ciúmes, traições e muito termina e volta. Em uma de nossas brigas por conta de ciúmes, nós nos agredimos e ele me ameaçou de morte, com os olhos vermelhos de raiva me disse pra entrar no carro pois ele ia me matar. Eu corri e me tranquei em casa, então ele bateu na porta e com a voz calma me convenceu a abrir. Nesse exato momento minha mãe chegou em casa, e ao ver que ele estava com a blusa rasgada, pescoço e peito arranhados, eu vermelha e descabelada, ela logo notou que tinha acontecido algo grave e o mandou ir embora e proibiu nosso namoro.
Ficamos três meses sem nos ver e nos falar, até que um dia ele me ligou e eu aceitei vê-lo. Ele parecia uma outra pessoa, estava mais gentil, mais legal, mais agradável. Eu logo me interessei novamente por ele e aceitei seu segundo pedido de namoro.
Conversei com minha mãe e consegui convencê-la a nos deixar namorar, afinal éramos só dois adolescentes apaixonados (na verdade ele tinha dezenove anos e eu dezessete na época).
O RETORNO
Dois meses se passaram e mesmo minha mãe, meu pai, minha família e alguns amigos não gostando muito dele, eu continuava gostando, até tatuagem com o nome dele eu fiz. Estávamos praticamente morando juntos, ele já havia me proibido de ir passar as festas de fim de ano com meu pai, já tinha brigado com minha mãe e para completar eu engravidei dele, mas logo sofri um aborto espontâneo.
Uma semana depois, em uma terça-feira à noite, dia dezoito de dezembro de 2007, após um dia comum, onde acordamos, fui com ele trabalhar, depois almoçamos na casa da mãe dele e fomos pra casa, ele me convidou para irmos comemorar o aniversário da namorada de um amigo. Antes eu precisava passar em casa (na casa da minha mãe) para pegar umas roupas.
O PASSEIO QUE MUDARIA MINHA VIDA
Ele me perguntou se eu queria ir de carro ou moto, e eu infelizmente escolhi ir de moto. Eu peguei minhas roupas escutando minha mãe brigar comigo e dizendo: se você for não volta mais! Então eu decidi escrever uma carta pois percebi que minha mãe não ia me ouvir. Na carta eu disse que estava de férias e queria sair para curtir, que estava indo mas eu ia voltar.
Eu não tinha o hábito de fazer isso quando brigava com minha mãe, mas nesse dia senti necessidade de deixar registrado o que eu estava pensando e sentindo naquele momento. Eu jamais imaginei o que aconteceria minutos mais tarde.
Quando cheguei no portão vi minha mãe e meu namorado discutindo, e então eu subi na moto e fomos embora. Pegamos a estrada, eu sem capacete e segurando uma bolsa cheia de roupas e ele com muita raiva da minha mãe virou a cabeça para trás e me disse: já que não posso bater na sua mãe, vou buscar a minha mãe pra bater nela!
Nisso a moto foi indo para a pista ao lado, de onde saia um carro de uma rua, quando ele olhou novamente para frente, não teve tempo de desviar, afinal estava distraído, e bateu no carro. No primeiro segundo, eu me vi caindo da moto e depois me levantando, limpando a roupa e catando minhas coisas do chão, mas não foi isso que aconteceu.
Quando eu abri os olhos eu estava no chão e sentindo uma dor muito forte no pescoço. A dor era tão forte que eu só falava: dói muito e desmaiava de novo.
Quando eu acordava ouvia meu namorado no fundo preocupado com a moto dele, mas em nenhum momento lembro dele ao meu lado preocupado comigo. Em um dos momentos acordada, vi um amigo meu na minha frente me pedindo pra não dormir e dizendo que a ambulância estava chegando. Em outro momento, me lembro da hora que entrei na ambulância e no fundo a voz da minha mãe gritando: minha filha, minha filha!
Daí pra frente eu só me lembro de vomitar e depois eu soube que nesse momento minha tia estava pedindo a Deus pela minha vida, porque eu estava morrendo, meus batimentos estavam indo embora, eu não falava mais nada, minha respiração fraca, na verdade era um ronco.
Deus ouviu as oração da minha tia que falava sobre uma passagem da Bíblia em Ezequiel 37.5 sobre o sopro de vida, e após eu vomitar, minha respiração voltou e os médicos voltaram para perto de mim e continuaram a fazer os procedimentos necessários.
MINHA QUASE MORTE
Meu diagnóstico então foi: traumatismo craniano, uma fissura no crânio, cinco vértebras atingidas, uma delas explodiu (brutalmente falando), perdi uma pequena parte da respiração e da audição. Minha canela direita tinha um corte enorme que por pouco não foi fratura exposta, minha cabeça do lado esquerdo era roxa da cor da casca da berinjela, meu cabelo na frente caiu pois minha cabeça arrastou no chão. Eu fiquei tetraplégica, perdi os movimentos e sensibilidade do pescoço pra baixo.
Me lembro de estar assustada pois não sabia o que estava acontecendo direito e estava sozinha, isso já era no dia seguinte de manhã, mas eu não estava completamente lúcida ainda. Eu só queria minha mãe e chamei uma pessoa que estava perto e pedi pra ligar para minha mãe, eu não sei como, mas lembrei o número dela e quando falei com minha mãe ela disse que já estava voltando para o hospital. Minha mãe me disse que meu pai dormiu no chão do hospital.
Quando finalmente eu acordei, já estava no CTI, e eu estava “bem”. Não estava assustada, nem com medo, eu só pensava que quando fosse para casa eu sairia de muletas do hospital porque imaginava que tinha acontecido algo com minhas pernas, já que eu não as sentia. Até que um dia meu pai me contou que o acidente foi muito grave e que talvez eu ficasse um tempo sem andar. Eu respondi: tá bom pai, eu posso não sair daqui andando, mas um dia eu volto a andar.
UMA NOVA VIDA (???)
Alguns dias depois me prepararam para a cirurgia, eu me lembro dos médicos na minha frente colocando uma máscara e de repente senti meu ouvido zunindo. Acordei já no CTI novamente e fiquei mais alguns dias. Mesmo com dor na garganta, não podendo comer alimentos sólidos por conta da cirurgia que foi pela garganta eu conversava com os enfermeiros e passava meu tempo pensando em Deus e relembrando momentos que já tinha vivido até ali. A visita no CTI durava apenas meia hora.
Enfim, fui para a enfermaria e pude ter mais tempo de visita e minha mãe dormia comigo. Depois de 24 dias tive alta. Tive que mudar de casa pois a casa que morava tinha escadas.
Como foi bom chegar em casa, vi minha cachorrinha Loly, minhas amigas estavam lá com um bolo de boas-vindas, tive muita, muita visita.
Mas tive que começar a entender o que estava acontecendo comigo, entender minha realidade. Eu não conseguia ficar sentada porque a pressão baixava, não gostava de ouvir barulho de moto, dependia de ajuda para tudo, meu cabelo teve que ser cortado porque embolou e ainda tinha terra e mato desde o dia do acidente.
AMIGOS FORAM SE AFASTANDO
Minha nova rotina era fisioterapia e médicos e visitas. Meses depois as visitas diminuíram até sumir, só ficaram alguns. Foi quando eu descobri que eu não tinha tantos amigos quanto eu achava.
Nem o meu namorado ficou, depois do acidente só nos vimos quando eu tive alta e quando eu perguntava por ele, pela mãe dele, ela me dizia que ele estava bem e que era para eu me importar comigo. Ele só machucou a perna e tomou alguns pontos. Quando nos vimos a primeira vez após o acidente ele reclamava que eu tinha muita visita e não dava atenção a ele. Um dia, em uma discussão, eu questionei se mesmo eu com tantos problemas, se ele ia querer mesmo brigar comigo? Ele disse: você quer o que? Que eu quebre uma perna e deite aí do seu lado? Dias depois eu terminei com ele.
VIDA DIFÍCIL
Foi muito difícil encarar minha nova vida e por muitos anos eu não fiz nada por mim, para o meu crescimento, porque eu não queria ser aquela pessoa. Eu já não era mais menina descolada, popular, confiante, comunicativa que fui um dia. Mas mesmo assim eu sorria, eu saia, eu vivia minha vida, eu não me entreguei. Tentei voltar a estudar mas desisti em meio a falta de preparo do colégio. A falta de preparo da cidade para uma pessoa com deficiência foi algo que começou a fazer parte da minha vida e faz até hoje.
Quinze anos depois estou aqui, agora com outra mentalidade porque eu entendi que os anos estão passando e eu preciso fazer minha vida andar. Preciso fazer por mim o que só eu posso fazer. Ano passado terminei os estudo e agora faço faculdade de marketing digital. Não faço fisioterapia há muitos anos e no fim do ano passado comecei a me exercitar em casa mesmo e já vejo resultados.
Eu recuperei os movimentos dos braços mas não das mãos, tenho um pouco mais de equilíbrio no tronco mas se não tiver apoio nas costas eu caio, recuperei um pouco do que perdi, mas nada que tenha mudado meu quadro de tetraplegia.
Eu tenho muita vontade de ter independência, um pouco que seja. Hoje consigo fazer muitas coisas, mas sempre com ajuda. Eu só tenho meu pai ou minha mãe para cuidar de mim e vejo que a idade deles está avançando, e pensar nisso me causa um certo desespero porque se não for eles por mim, não tem mais ninguém que possa cuidar de mim como eles cuidam.
E pensando nisso eu vi a necessidade de buscar mais oportunidades de ajudar meus pais a cuidar de mim. E uma solução pra facilitar o dia a dia é uma cadeira de rodas motorizada, porque com ela eu teria mais mobilidade, independência e liberdade, além de dar um certo descanso aos meus pais, porque empurrar a cadeira cansa, eu ouço a respiração ofegante de quem empurra minha cadeira quando andamos na rua.
Infelizmente hoje não temos condições de comprar uma cadeira motorizada, e então decidi pedir ajuda. Estou fazendo uma vaquinha e preciso de dezessete mil reais. Eu já ouvi falar em doação de cadeira motorizada mas fiz uma pesquisa e vi que a cadeira da doação não supre minhas necessidades tanto quanto a cadeira que pretendo comprar.
Muitos amigos já compartilharam, mas ainda preciso de ajuda. A vaquinha é feita através do site vakinha.com e também por chave pix.
Eu demorei um pouco até tomar a decisão de pedir ajuda, algumas amigas deram força para eu fazer e hoje estou aqui, contando minha história e contando com sua ajuda para comprar a cadeira e seguir os planos que tenho para seguir minha vida e realizar meus sonhos porque hoje eu penso da seguinte forma: ao invés de ficar pensando no que perdi, prefiro focar no que ainda posso conquistar.
Meu Instagram é @ludmillacecilio lá tem todas as informações da vaquinha inclusive o link. Eu já agradeço muito a ajuda e qualquer ajuda é válida, inclusive a divulgação" contou Ludmilla.
E nós da PR PRODUÇÕES abraçamos mais essa causa, pedindo à todos que possam ajudar com a divulgação desta matéria em redes sociais, que possam fazer doações através da vakinha on line https://www.vakinha.com.br/vaquinha/cadeira-motorizada-pra-ludmilla ou através de PIX ludmillavilellafc@gmail.com Nubank - Ludmilla Cecilio.
Quem quiser entrar em contato com Ludmilla para outras ajudas e doações, pode ligar para o número 21 98795-6110 (whatsapp).
Ajude, e você será o mais ajudado!!!