Depois de ficar cheia de marcas de queimadura causadas pelo seu pai, Amanda encontrou uma forma de voltar a amar o próprio corpo
Sabe quando você acorda e não gosta do que vê no espelho? O cabelo não se ajeita, a pele não está muito legal, as roupas não servem direito…
Tem dias em que é difícil manter a autoestima lá em cima mesmo, a gente sabe. Contudo, precisamos admitir: muitas vezes, acabamos fazemos um drama desnecessário, não é verdade?
Claro, ninguém gosta de lascar o esmalte ou perceber que está com uma espinha, mas, quando olhamos ao nosso redor, podemos perceber que algumas vezes nossos problemas são muito pequenos.
E isso acontece principalmente quando nos deparamos com histórias como a de Amanda Carvalho, uma mulher de 21 anos que teve 57% do seu corpo queimado ao tentar salvar a própria mãe do fogo – que havia sido ateado pelo pai.
Um crime bárbaro e uma atitude heroica
Os pais de Amanda foram casados por mais de 20 anos. O pai dela sempre havia sido muito ciumento e agressivo, tendo batido em sua mãe muitas vezes. Até que, em 2014, eles finalmente se separaram.
Na manhã do dia 9 de dezembro daquele ano, Amanda estava conversando com sua mãe quando seu pai invadiu a casa e ateou fogo na ex-mulher. Ao ver a mãe em meio às chamadas, Amanda tentou tirá-la de lá desesperadamente. Com isso, a gasolina que seu pai havia jogado a atingiu também.
Amanda relata que correu para o banheiro e não se lembra de mais nada. Com 57% do corpo queimado, ela permaneceu um mês na UTI e mais dois meses no quarto do hospital. Sua mãe, infelizmente, não resistiu às queimaduras em 80% do corpo. O pai dela se enforcou.
Orientadas pela equipe médica, as três irmãs de Amanda diziam apenas que sua mãe estava internada em estado muito grave, até o dia em que a verdade foi revelada. Amanda, porém, conta que sempre soube o que havia acontecido, mas gostaria que alguém lhe confirmasse.
Culpa e vergonha
As marcas do fogo traziam lembranças muito tristes para Amanda, mas ela conta que tudo era ainda pior porque sua mãe havia falecido. Amanda iniciou um tratamento em um centro especializado em queimados com o objetivo de recuperar sua pele, e aos poucos ela retomou suas atividades do dia a dia.
Entretanto, ela se sentia culpada pelo que havia acontecido, pensando que poderia ter feito alguma coisa a mais para salvar sua mãe. Com o acompanhamento psicológico, porém, Amanda foi percebendo que nada daquilo era culpa dela – inclusive, as cicatrizes provavam que ela havia lutado bravamente e feito tudo o que podia.
Essas marcas de queimadura, contudo, eram fonte de grande vergonha para Amanda. Ela evitava passar em frente de espelhos e não usava camisetas de manga curta. Para não atrair olhares e não encorajar as pessoas a fazerem perguntas, Amanda evitava fazer contato visual e chegava a fingir que era surda.
A aceitação por meio da fotografia
Depois de muito sofrimento, Amanda foi se dando conta de que deixar de se amar era prejudicial apenas para si mesma. Essa atitude não afetava mais ninguém. Por causa disso, ela começou a sair de casa mais confiante, usando roupas mais curtas, e passou a enfrentar o espelho todos os dias, até aceitar seu corpo.
Amanda conta que, um dia, viu um ensaio de nu artístico que uma de suas professoras do cursinho havia feito. Ela conversou com a professora, que a colocou em contato com o fotógrafo.
Ele se interessou pela história de Amanda e quis fotografá-la. Ao ver suas fotos prontas, Amanda se emocionou e passou horas olhando para elas. Outros ensaios se seguiram a este e, dessa forma, a fotografia se tornou parte do processo de autoaceitação.
Amanda decidiu publicar suas fotos no Instagram e, com o passar do tempo, começou a receber mensagens de outras meninas, que falavam sobre a aceitação do próprio corpo. Com isso, Amanda conseguiu transformar a vergonha de suas cicatrizes em orgulho e amor.
O trauma pelo qual Amanda passou foi muito doloroso e ela mesma diz acreditar que nunca vai aceitar o que aconteceu. Porém, ela conseguiu voltar a amar seu próprio corpo e transformou suas cicatrizes em um escudo. Uma lição de autoestima e autoaceitação que podemos levar para a vida toda.