Depois de um casamento de três décadas, e de um período de tristeza profunda que se seguiu à separação, Oneia da Silva Nascimento, de 54 anos, permitiu-se voltar a sorrir. Engatou um relacionamento com um homem bem mais jovem e, há cerca de dois meses, assumiu, pela primeira vez na vida, um emprego com carteira assinada, como cuidadora de idosos. Encantada pela primeira netinha, de pouco mais de 1 ano, moradora de outra cidade, ela ligava todos os dias para a menina, religiosamente, e repetia: “Vovó Néia ama muito você”. Foi justamente pelas mãos do primeiro namorado sério após o divórcio, porém, que a moradora de Nova Friburgo, na Região Serrana do Rio, encontrou a morte, em um quarto de motel da cidade.
Fábio de Paulo Faria, de 36 anos, confessou o crime, nesta segunda-feira, a agentes do Núcleo de Homicídios da 151ª DP (Nova Friburgo). Oneia vinha tentando encerrar o romance durante meses, mas o ajudante de caminhão insistia. Chegou a perseguí-la e até a agrediu, o que motivou uma denúncia na Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam) do município. Fábio, contudo, não respeitou sequer a medida protetiva decretada pela Justiça, determinando o fim dos contatos, e permaneceu atrás da já ex-namorada.
Em depoimento, ele disse ter se descontrolado quando Oneia vaticinou, no motel, que aquela “seria a última vez” que eles ficavam juntos. Informações preliminares do laudo cadavérico apontam que a morte foi causada por asfixia mecânica — segundo o relato do próprio, Fábio a sufocou até o último suspiro, com uma mão no nariz e outra na boca. Como não foi detido em flagrante, nem havia mandado de prisão expedido, o assassino confesso deixou a delegacia pela porta da frente após dar detalhes da morte.
— Para piorar, estamos com medo de ele fugir, e com um receio ainda maior porque minha irmã continua morando em Friburgo. Como vai ser se ele continuar solto? Nada trará a nossa mãe de volta, mas queremos pelo menos poder descansar — desabafa a estudante Vanessa Silva do Nascimento, de 35 anos, uma das duas filhas de Oneia (a outra tem 24 e dividia a casa com a mãe).
O corpo foi encontrado na manhã da última sexta-feira, por volta das 11h, sob um lençol, por empregados de um motel que fica na Rua Otília Pereira Schuabb, no bairro Ponte da Saudade, em Friburgo. Imagens do circuito interno mostram os dois chegando a pé ao estabelecimento na véspera, às 16h55m, ele com os braços sobre os ombros dela. Fábio deixou o local sozinho, às 4h41m da madrugada. Pagou o que faltava da conta com o cartão de débito de Oneia, a essa altura já sem vida, e avisou aos funcionários que a acompanhante havia solicitado ser acordada somente dali algumas horas.
os dois chegam juntos aparentemente bem |
Essa não foi a única vez que Fábio utilizou o dinheiro da mulher que matou. Nos dias seguintes, como conta Vanessa, que tinha acesso à conta-corrente da mãe, ele — em posse da chave de segurança que também levou do quarto de motel — sacou R$ 50 em um caixa eletrônico de Friburgo. Depois, retirou mais R$ 50, e em seguida outros R$ 20, em caixas situados na cidade vizinha de Teresópolis. Por fim, passou R$ 5 no débito em uma lanchonete. Não sobrou um centavo na conta.
Tampouco aquelas eram as primeiras vezes em que o ajudante de caminhão se valia das finanças da ex-companheira. Ainda segundo a filha da vítima, enquanto perseguia Oneia, nos meses anteriores ao crime, Fábio fez ameaças de morte até à irmã de Vanessa. Para se livrar do rapaz, por muitas vezes a ajudante de idosos precisou dar dinheiro a ele.
— Nós temos certeza, inclusive, que mesmo essa última ida ao motel aconteceu por conta de alguma ameaça dele, que minha mãe só fez isso para zelar pela minha irmã. Ela morreu por proteção — conta Vanessa.
Ao todo, o relacionamento durou pouco mais de três anos. Moradora da cidade do Rio, Vanessa não chegou a conhecer Fábio. O único contato entre os dois se deu há poucos meses, já após o rompimento e em meio às ameaças, quando o rapaz ligou para a casa da ex e a estudante atendeu o telefone. Antes, Oneia chegou a mudar de número mais de uma vez para tentar evitar os contatos.
— Discutimos, disse para ele não procurar mais, mas não adiantou. Ele dizia que se minha mãe não fosse dele não seria de mais ninguém — diz Vanessa, antes de continuar, com a voz embargada:
— Minha mãe era a minha base. Sei que não existe pessoa perfeita, mas ela foi uma mãe perfeita. Queria que ela estivesse aqui para continuar a missão dela, agora como avó. Esse homem destruiu a minha família.