sábado, 18 de maio de 2024

"Declaração de amor próprio" por Andressa Laranejiras


Andressa Laranjeiras (46), arquiteta, Musa da Primavera 2023, que passou por um turbilhão em sua vida (com enormes reflexos e lutas até hoje após o brutal assassinato do seu filho), vem neste texto, mesmo com suas enormes atribulações, fazer uma DECLARAÇÃO DE AMOR PRÓPRIO.  

"Eu passo todos os domingos com o meu filho e netos, e não troco a companhia deles por nenhum outro momento ou atividade.

Quando eles seguirem a própria vida e tiverem como prioridade seu parceiro(a) ou filhos(as) ai sim para mim a vida estará perfeita, completa. Eu já tenho um caso de amor comigo e com a solidão, me adapto bem aos diversos ambientes e situações que a vida me impõe! Só não me adaptei e nunca me adaptarei com a partida tão precoce e violenta do meu filho, meu primogênito, Matheus Laranjeiras... isso jamais acontecerá, a dor (que é enorme) apenas vai se acomodando.

Todos os castelos que abrigaram outras pessoas que não seja meu filho ou meus netos, ruíram.

Vi gente enriquecer e perder tudo, fiz coleções diversas que se quebraram todas, tive os melhores escritórios de arquitetura mas o que é material, não substitui o aconchego e o amor que eles me dão e está dentro de mim. 

Passei apertos, perdi empregos, me ergui e caí diversas vezes. Nada acumulei, apenas algumas cicatrizes de tanta porrada que levei, principalmente a maior delas que foi a morte brutal do meu filho e de tantas quedas, de tantos recomeços (todos eles necessários), as cicatrizes alimentaram cada vez mais a minha fome e sede de Justiça. 

Sou muito transparente, meus olhos me entregam, se apagaram, mas não desisto de reacender dentro de mim, e fazer aflorar, aquela mulher radiante. O amor próprio ainda está aqui, apenas um pouco enclausurado dentro de tanta dor e guerras vivenciadas, que poucos sabem. Perder um filho é uma dor inimaginável que não desejo à ninguém.

Dizem que não pareço ter 46, quando na verdade a minha alma oscila dos 5 (idade dos meus netos) ao infinito.

Fisicamente me veem de forma que eu não me vejo. A imagem da Andressa de alguns anos atrás (radiante antes da tragédia que me acometeu), parece ter se congelado no meu espelho e por isso eu só me preocupo com a minha alma.

Pedem para a mulher de meia idade dar voltinhas para que seu corpo seja visto... é muito doido isso!!! Que se dane o que ela tem por dentro!!!

Já me falaram que depois dos 40 muitas mulheres, fisicamente podem ir de ladeira abaixo e eu me ferraria caso isso tivesse ocorrido. Mas mesmo destruída por dentro, com minh'alma dilacerada e não sendo nem de perto o que era há quase 3 anos atrás, me cuido sim, tento viver, afinal tenho outro filho e meus netos queridos e preciso estar bem para eles e sim (apesar de tudo), para mim também!

Sem vocação NENHUMA para símbolo sexual (mesmo conquistando no ano de 2023 o título de Musa da Primavera), se eu abrisse a boca falando de tudo que eu amo, boa parte dos que me cercam fugiriam. Minha profundidade e sinceridade é para poucos.

Nunca tive vergonha do meu corpo, mostrá-lo é uma alegria e satisfação para mim mesma, apesar dos julgamentos hipócritas daqueles que na verdade, gostariam mesmo, era de ter a coragem que eu tenho! Não me censurarei, continuarei usando roupas curtas, que me fazem bem, continuarei usando meus biquínis na minha casa, na praia, e onde eu quiser!

Fora o meu filho e netos, amo aprender e amo ensinar.  Aprendi que meu dia nunca será completo se não aprender algo, ou não ensinar alguma coisa. Eu não me apego a mais nada que pode partir.

Por isso, trago a vocês pensamentos sobre valorização, aceitação, respeito e amor próprio.

Declaração de amor próprio:

Não é preciso pisar nos outros. Muito menos se achar melhor que ninguém. Amar a si mesmo é saber que você pode quebrar a cara trezentas vezes, mas no fim sempre vai ficar tudo bem; Ninguém é forte o suficiente pra te fazer cair e não poder levantar depois. Cada um sabe o valor que tem e precisa se dar o respeito de não se deixar abalar por ninguém.

- Não, a mulher mais velha não fica comparando o corpo dela com o das mais novas e não pensa também em fim de carreira de nenhum tipo, tanto profissional quanto amorosa, o conceito de fim se modifica com o passar dos anos.

Meu jeito assusta, minha independência intimida, meu amor-próprio é suficiente, minha personalidade é forte, meu carisma conquista e minha sinceridade apavora. Aqueles que me chamam de louca sonham em ter um pouquinho da minha coragem!

- Se você valoriza mais o seu corpo do que sua alma (seu conhecimento e outros valores), aí sim, estará ferrada mais tarde. Envelhecer não dói, não causa insegurança, pelo contrário.

- Não é a condição econômica que traz essa segurança, apesar dela ser indispensável.

Não implore e nem mendigue a atenção de ninguém. Primeiramente tenha amor-próprio. Pessoa nenhuma que não queira te dar atenção merece que você faça questão de tê-la.

- Seja sempre mais você. Cative e faça por onde merecer atenção apenas de quem te mostre valor e quem te dê valor, quem valha a pena e tenha sentimentos nobres, mas lembre-se antes de certificar-se se esse alguém realmente merece ser cativado. Para todo o resto, não dê tanta importância. Esteja nem aí.

- Também não é o amor que sentem ou não por você, que constrói essa segurança. Você pode ter ela mesmo sendo odiada. Você envelhece bem se o seu tempo de vida é equivalente ao tempo do amor mais necessário: o próprio!

Texto adaptado: Andressa Laranjeiras (arquiteta, modelo, Musa da Primavera 2023)
Fotos: Pery Salgado (jornalista)
Realização: PR PRODUÇÕES