sábado, 15 de julho de 2023

Conheça a história da "CASA DA ENY", o maior bordel brasileiro

 Conheça a ascensão e decadência da Casa da Eny, o bordel mais famoso do Brasil durante o período da Ditadura Militar

Equipe do Bordel Casa da Eny, em Bauru, 
início dos anos 60


A casa da Eny se tornou um dos prostíbulos mais famosos da história do Brasil. Localizado em Bauru, o lugar era gerenciado pela cafetina Eny Cezarino e formado por mais de 30 profissionais do sexo.

Eny chegou em Bauru como funcionária de uma boate, mas, em pouco tempo, devido à sua habilidade de liderança e contatos profissionais com homens ricos e políticos influentes, ela comprou o estabelecimento e o expandiu, mudando de endereço para a entrada da cidade, onde construiu mais de 40 quartos, piscina, churrascaria, dança de salão e sala acústica, tudo em um terreno de 15 mil metros quadrados.

A Casa da Eny, em poucos meses de existência, virou um império do sexo pago. Dentre os frequentadores da boate, estavam políticos poderosos, empresários milionários, jogadores de futebol e muitos artistas.

Carta do então presidente Jânio Quadros para Eny

Além da diminuição significativa da clientela, Eny tomou um golpe de seu contador, que fugiu para Paris, com parte de suas economias e capital de giro da casa, para viver o sonho de se tornar transformista.

A dona do prostíbulo mais famoso do interior paulista e conhecida em todo o país, morreu pobre, endividada, próximo de completar 70 anos, levando consigo segredos revelados por poderosos na beirada das camas e dos balcões do seu estabelecimento notório.

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Assista abaixo o vídeo com um belo resumo da história do maior e mais bordel do Brasil, mas se quiser saber e ler mais alguns detalhes, logo após o vídeo, mais histórias para o leitor do CULTURARTE.


A CASA DA ENY SARINO EM BAURU, SÃO PAULO

A memória de quem trabalhou lá (os garçons e as novas donas de bordéis locais, iniciadas por Eny) evoca: Chico Anísio, Juca Chaves, Clodovil, Roberto Carlos, Vinicius de Morais, Jô Soares, Laudo Natel, Paulo Maluf, José Sarney, Orestes Quércia…, para citar os mais conhecidos.

No inicio dos anos 1960, um compositor da musica popular italiana compôs uma canção com o titulo A casa da Irene. “Na casa da Irene, se canta se ri, É gente que entra, é gente que sai”. Podia ser uma casa de família, aonde muita gente ia e voltava de visitas que sabe de uma família numerosa. Mas não, para quem ouvia, a letra se referia há um Bordel. 


ENY CESARINO (OU SARINO) com aquilo na mão

Mas muitos anos antes dessa musica, no estado de São Paulo já tinha A Casa da Eny, a maior casa do meretrício de São Paulo, quem sabe do Brasil. Ficava na cidade de Bauru, há 500 quilômetros distantes da capital. Foi a casa mais comentada pela imprensa ou em qualquer recinto onde o sexo era mencionado. Qual o time de futebol varzeano, quando foi jogar em Bauru, ou cidade próxima, que não parou na porta do “amor” para fazer uma visita e conhecer as belas mulheres do local?   

A proprietária era a Eny Cesarino (ou Sarino, segundo outras fontes), filha dos imigrantes José Cesarino, italiano, e de Angelina Bassoti Cesarino, francesa. Eny nasceu em 1916 no bairro da Aclimação em São Paulo, morou em Uruguaiana e aportou aos 23 anos, em 1940, para trabalhar como inquilina de Nair, na Pensão Imperial. 

Passou a gerente, arrendou e finalmente comprou o “ponto” e a casa da antiga zona de meretrício, na rua Rio Branco 5-50, esquina com a Costa Ribeiro, tendo logo se destacado dos demais, pela sofisticação e luxo que seu bordel oferecia.

Em função da lei municipal, que proibiu a permanência da zona do meretrício em área central da cidade, no final dos anos 50, Eny, antes proprietária da Pensão Imperial, transferiu-se para fora do perímetro urbano, construindo o “Eny’s Bar” em propriedade particular, ao sul da cidade, em área transacionada através da Prefeitura, em sentido oposto das outras casas que foram confinadas no extremo leste da cidade, no “formigueiro” ou Novacap, a zona determinada pelo poder municipal para o baixo e médio meretrício, em terrenos de Edgar Bicudo.

A casa da Eny situava-se, agora, junto ao trevo rodoviário que liga as rodovias Mal. Rondon, Cte. João Ribeiro de Barros e Eng. João Batista Cabral Rennó – hoje oficialmente denominado Trevo da Eny. A fase áurea do seu luxuoso bordel se deu entre 1963 e 1983.

O maior e mais luxuoso bordel do Brasil, inigualável na América Latina, tinha 5.000 m² de área construída, distribuídos em 12 conjuntos, 7.000 m² de jardins e alamedas floridas, protegidas por muros, com a maior piscina particular da cidade, sauna, restaurante e lanchonete, além dos quarenta quartos e suítes, com cama redonda e poltronas Luís XV, e uma suíte presidencial, com entrada privativa. A pista de dança, ao ar livre, tinha formato de violão, cujo “braço” era a entrada para a churrascaria: tudo de uma beleza e requinte inconcebíveis para um bordel em 1963 (muitos anos antes do La Licorne, na capital).

Contudo, os serviços mais destacados eram a qualidade das mulheres e o sigilo e a discrição garantidos pela proprietária – na verdade, sua marca registrada, como se verá.

As lindas moças vinham de toda a parte, recrutadas até do Paraguai, Argentina e Uruguai. Eny nelas investia: antecipava-lhes dinheiro para roupas finas, jóias caras e salões de beleza (o da Dirce era o melhor, também freqüentado por “senhoras da sociedade”); tudo do bom e do melhor para a clientela constituída por gente muito rica, famosa, políticos e afins.
Segundo se diz, passaram pelos aposentos da Eny, dois terços de todas as assembléias legislativas do Estado de São Paulo nos últimos anos, muitos governadores de Estado e prefeitos da região, boa parte dos grandes plantadores de cana e os filhos deles e pelo menos um Presidente da República.

A memória de quem trabalhou lá (os garçons e as novas donas de bordéis locais, iniciadas por Eny) evoca: Chico Anísio, Juca Chaves, Clodovil, Roberto Carlos, Vinicius de Morais, Jô Soares, Laudo Natel, Paulo Maluf, José Sarney, Orestes Quércia…, para citar os mais conhecidos.

O fato é que Le Bordel fazia às vezes de “Centro de Convenções” do Estado, muito antes de terem sido criados os primeiros deles. Bauru já era o lócus para fechamento de grandes acordos de empresas e indústrias de porte – como noticiava a imprensa local, inúmeras vezes -, pois a comemoração com chave-de-ouro, na Eny, era obrigatória. 

A Bardahl e a Dedini, ali promoviam as suas convenções de final-de-ano para diretores e representantes, além das reuniões para os delegados das convenções políticas, no período da ditadura militar.

Ora, nada mais previsível que esta hábil administradora (que, dizem, deteve a maior fortuna de Bauru da época, com 24 casas só no Parque Vista Alegre), exercesse também grande força política, que foi demonstrada quando, em menos de 24 horas, fez revogar a ordem do Delegado Regional de Polícia, Francisco de Assis Moura, que determinara o fechamento da sua Casa, por não estar no local determinado ao meretrício, na Novacap, e elegeu, em 1963, o vereador Marco Aurélio Brisolla.

Conta Nicola Avallone Jr., ex-prefeito, em entrevista à Revista Bauru e Região (Ano I nº 1, set/93) que um delegado de polícia – querendo agradar Jânio Quadros, o grande derrotado em Bauru – fechou a Casa da Eny. O fechamento durou três horas. “Reabri com a presença do Juiz Otávio Stuchi – uma personalidade fantástica. 

Fizemos um comício em prol da Eny e provamos ao Juiz que a Eny era um elemento agregador e não desagregador. E essa mulher teve tanta visão que se transformou na Dama da Caridade. Porque queríamos tirar a zona da 5-50 da rua Rio Branco, porque ficava a 50 metros do cinema, na área central. Nós ajudamos a transferência do bordel para a rodovia Bauru-Ipaussu. Quem decidiu o local fui eu. Arrumei mais nove companheiros para ajudar. O local estava abandonado. Era um posto de gasolina. A área foi comprada e transformou-se em coqueluche nacional. Ela financiava escola, creche, entidades de freiras. Mulher fantástica, de marcante presença na vida fraterna de Bauru.”

Os fundos da casa e a piscina que ficava no amplo terreno.


Nicolinha conta também que “até candidato era definido ali. Era o pólo mais importante de Bauru. Os meus hóspedes assinavam o ponto na Casa da Eny. Ela era anfitriã. Até um príncipe austríaco, que veio a Bauru instalar uma cervejaria – a Vienensse –, visitou a Eny. Ele e quatro engenheiros ficaram tão encantados que depois voltaram para visitar o bordel.”

Eny era bastante conhecida na cidade e na região desde os anos 40, quando se mudou para Bauru; mas, de 1963 ao início dos anos 80, sua fama cresceu e seu bordel tornou-se um dos mais notáveis do país, até ser desativado em 1983 (a propriedade foi vendida ao grande empresário de ônibus da região, Dolírio Silva, que a revendeu e, hoje, pertence ao médico psiquiatra, ex-deputado estadual, Fauzer Banuth, e permanece fechada, sem uso algum).

O neon da casa da Eny ficou para a posteridade

Mesmo não existindo mais, a “Casa da Eny” é ainda referência para e sobre Bauru, citada, até hoje, em jornais e na TV.