quinta-feira, 20 de julho de 2023

CAMILLE MONFORT, A VAMPIRA DA AMAZÔNIA


Em 1896, Belém enriquecia com a venda da borracha amazônica para o mundo, enriquecendo fazendeiros, da noite para o dia, que construíam seus ricos palacetes com materiais vindos da Europa. 

O Theatro da Paz era o centro da vida cultural da Amazônia, com concertos de artistas europeus. Entre eles um chamou especial atenção do público, o da bela cantora lírica francesa Camille Monfort (1869 - 1896), que causou desejos desenfreados em ricos senhores da região, e ciúmes atrozes em suas esposas por sua grande beleza. 

Camille Monfort também causou indignação por seu comportamento livre das convenções sociais de seu tempo. Ela era vista, semi nua, a dançar pelas ruas de Belém, enquanto se refrescava sob a chuva da tarde; era também vista em solitários passeios noturnos, com seus longos vestidos negros esvoaçantes, à beira do Rio Guajará.

Logo, ao seu redor, boatos se criaram e deram vida a comentários maledicentes sobre sua pessoa. Dizia-se que era amante de Francisco Bolonha, que a trouxera da Europa, e que este lhe dava banho com caríssimas champanhes importadas da Europa, na banheira de seu palacete; dizia-se também que ela fora atacada pelo vampirismo em Londres, devido sua palidez e aspecto doentio, e que trouxera este grande mal à Belém, possuindo misteriosa necessidade de beber sangue humano, ao ponto de hipnotizar jovens mocinhas com sua voz em seus concertos, fazendo-as adormecerem em seu camarim, e terem seus pescoços sugados pela misteriosa dama (o que, curiosamente, coincidiu com relatos de desmaios nas dependências do teatro durante seus concertos, que eram explicados como apenas o efeito da forte emoção produzida por sua música aos ouvidos do público).

Dizia-se também que ela possuiria o poder de se comunicar com os mortos e materializar seus espíritos em densas brumas etéreas de materiais ectoplasmáticos expelido de seu próprio corpo em sessões mediúnicas. Eram, sem dúvida, as primeiras manifestações na Amazônica do que mais tarde viria ser chamado de Espiritismo, praticado em misteriosos cultos em palacetes de Belém, como o Palacete Pinho.

Em finais de 1896, um terrível surto de cólera devastou a cidade de Belém, fazendo uma de suas vítimas Camille Monfort que faleceu, sendo sepultada no Cemitério da Soledade.

Hoje, sua sepultura ainda está lá tomada pelo limo, musgo e pelas folhas secas, sob uma enorme mangueira que faz o túmulo mergulhar na obscuridade de sua sombra, apenas clareada por alguns raios de sol que se projetavam por entre suas folhas verdes. É um mausoléu de linhas neoclássicas com um portão fechado por um velho cadeado enferrujado, de onde pode-se ver um busto feminino em mármore branco sobre a ampla tampa do túmulo abandonado e, fixado à parede, uma pequena imagem emoldurada de uma mulher vestida de preto. E e em sua lápide pode-se ler a inscrição:

Aqui Jaz
Camille Marie Monfort (1869 - 1896)
A Voz que Encantou o Mundo

Mas há aqueles que, ainda hoje, dizem que seu túmulo está vazio, que sua morte e enterro não passaram de encenação para acobertar seu caso de vampirismo, e que Camille Monfort ainda vive na Europa, hoje aos 154 anos de vida.

Quando você visitar o Cemitério da Soledade, em Belém, não esqueça de visitar seu túmulo, e lhe depositar uma rosa e não se assuste se noutro dia a rosa tenha se tornado em sangue.

Ela também inspirou um romance: 'Após a Chuva da Tarde'.