O fato aconteceu há quase dois anos, em maio de 2019, mas até hoje repercute e é um marco na questão homofóbica na Inglaterra.
Melanie Geymonat e sua namorada estavam em um ônibus quando um grupo de homens pediu para elas se beijarem enquanto faziam gestos obscenos
Uma comissária de bordo e sua namorada ficaram cobertas de sangue após uma gangue de homens as atacar em um ônibus, no dia 30 de maio de 2019, em West Hampsted, noroeste de Londres. As agressões teriam acontecido porque o casal se recusou a dar um beijo na frente deles.
Melania Geymonat, de 28 anos, e sua namorada, Chris, estavam voltando de um compromisso durante a noite quando avistaram um grupo de rapazes atrás delas. Segundo o relato do casal no Facebook, ao perceberem que as duas mulheres eram namoradas, os homens começaram e exigir que elas se beijassem, enquanto faziam gestos obscenos.
“A próxima lembrança que eu tenho é de levar um soco. Eu fiquei tonta com a visão de meu sangue e cai para trás. Eu não lembro se eu perdi ou não a consciência”, contou Melania.
Scotland Yard confirmou, investigou o ataque homofóbico e que, além disso, um celular e uma bolsa foram roubados.
O ataque
“Eles queriam que nós nos beijássemos para que eles pudessem assistir. Eu tentei acalmar a situação, como eu não sou uma pessoa que confronta, pedindo para que eles nos deixassem sozinhas”, disse Melania.
Ainda de acordo com o relato, o grupo de homens – composto em sua maioria por rapazes de 20 e 30 anos – começou o ataque jogando objetos contra o casal, que havia pedido para que eles parassem.
Ambas foram levadas a um hospital para tratar os ferimentos nos rostos das mulheres. Melania afirma que um dos homens falava espanhol, enquanto os outros tinham sotaque britânico.
“Eu me lembro de Chris estar no meio deles e eles estarem batendo nela”, relatou a vítima. “Eu não pensei e entrei no meio. Puxei ela de volta e tentei a defender. Então eles começaram a me bater”.
“Não é algo isolado, é comum”
Melania nasceu no Uruguai e se mudou para o Reino Unido em fevereiro deste ano. Ela afirma que se considerava segura como uma mulher lésbica em Londres, mas que a sensação mudou depois do ataque.
“[O ataque homofóbico] não é algo isolado. É comum. Nós fomos vistas como entretenimento, isso me deixou furiosa”, disse a jovem.
Em entrevista à rádio BBC, Melania contou que não foi a primeira vez que a abordaram duas namoradas por estarem juntas. “Eu sei que existe muita violência verbal o tempo todo e isso me fez contar a nossa história. Mesmo quando esses caras chegaram, não foi a primeira situação em que homens vêm duas mulheres se beijando e eles perguntam se elas estão em um show”, relatou.
“Eu tenho amigas lésbicas que já estiveram nas ruas e apanharam. Agora, outras pessoas me contaram casos de violência e afirmaram que nós tivemos sorte de estarmos em um ônibus, porque, se estivéssemos nas ruas, ninguém saberia o que poderia ter acontecido”, defende.
Segundo a comissária, a polícia tem sido “extremamente boa” em lidar com o caso.
Repercussão do caso
A publicação onde Melanie relatou o ataque já acumulou quase 4 mil comentários e mais de 9 mil compartilhamentos. O prefeito de Londres, Sadiq Khan, publicou em seu Twitter que que o ocorrido “é nojento, um ataque misógino. Crimes de ódio contra a comunidade LGBT+ não serão tolerados em Londres.”
O líder trabalhista Jeremy Corbyn afirmou que o ataque foi “absolutamente chocante”. “Nós não devemos, e não vamos, aceitar essa violência homofóbica e misógina em nossa sociedade”, afirmou.
“Solidariedade a Melanie e Chris, e a toda comunidade LGBT+ por tudo o que eles enfrentam por apenas serem quem eles são”, completou.