quarta-feira, 21 de abril de 2021

ALESSA LOPES: NEGRA, PLUS SIZE, NA LUTA CONTRA O RACISMO


     Negra, linda, simpática, sorriso franco, corpão que chama atenção de longe, ela é a mais nova modelo plus size da PR PRODUÇÕES. Alessandra Macedo Lopes Ferreira (40), nascida em Engenheiro de Paulo de Frotin, moradora de Volta Redonda. Um dos seus sonhos: ser modelo. Nome artístico, já tem ALESSA LOPES. Hoje nosso papo é com ela, e além dos sonhos, ela vai falar de racismo, dos problemas que passou e ainda passa para vencer o preconceito. No seu Facebook ela se define: "Ativista negra, anti racista, Negra consciente do meu valor!!! Fogo nos racistas!"

CULT: Seja bem vinda Alessa. Queremos saber tudo sobre você. Esteja à vontade!
ALESSA: Olá meus queridos, uma honra, um inenarrável prazer estar aqui com vocês no CulturarTEEN, de quem eu aprecio muito o trabalho de valorização do ser humano, em especial das mulheres. Sou Alessa, casada tenho 2 filhas e 2 netas lindas. Tenho ensino médio completo,  sou técnica de enfermagem.


CULT: Você chama atenção pela beleza e pelo corpão. Malha, pratica algum esporte?
ALESSA: Nada, não pratico nada.


CULT: Como faz para cuidar e manter o corpo? A genética ajuda?
ALESSA: Acredito que alimentação saudável, é o meu ponto forte, fora a genética que me é muito favorável!


CULT: Como negra, já sofreu muitos preconceitos na escola, na vida?????
ALESSA: Na escola sempre, na vida não muito diferente e até hoje a família do meu marido não se conforma de ter uma negra entre eles. Meu marido é branco. Só tenho contato com 3 ou 4 deles. Eles são bem racistas. Ele foi casado antes com uma moça loira de olhos azuis e a família não se conformou com a troca que ele fez!


CULT: O que poderia passar de mensagem contra o racismo?
ALESSA: Então, eu acredito que muitos de nós negros crescemos com a responsabilidade de sempre fazer mais e melhor pra sermos aceitos,o que nos frustra pois somos todos iguais. O que eu sempre digo e enfatizo, é que o racismo existe sim mas cabe a nós em quanto sociedade nos colocarmos no mesmo patamar dos demais, sem diferenças. Eu não me acho mais ou menos que ninguém, nem aceito que seja feito ato de racismo perto de mim. Há muito racismo escondido atrás de um elogio, tipo "uma preta é uma preta", ou "como preta é quente". Nós não somos alienígenas, não somos diferentes, mas a sociedade teima em fazer comparações.


Infelizmente nos associam muito à sexo. Idealizam muito,  nos subestimam. Outro dia um rapaz me chamou no messenger, porque segundo ele, se sentiu atraído por mim pelo fato dele nunca ter tido relação com uma mulher negra e a foto que eu havia postado remetia apenas ao meu cabelo. É muita doideira.


CULT: Diga seus sonhos e desejos
ALESSA: Nossa São tantos. Eu ainda quero e sonho em fazer minha hidro lipo, também quero trabalhar com algo voltado para estética, inclusive vou até começar um curso esse mês. Sonho em ter minha casa própria e também dar uma casa para meus pais. Quero fazer uma faculdade e ser conhecida como referência de mulher negra, para isso conte a ajuda de vocês. Nem é muita coisa, mas para quem acabou de sair de uma depressão por causa de baixa autoestima, já é o bastante, não acha?


Ah sim, eu comecei um curso de estética que eu amo, só que para bancar o curso tem que ter dinheiro não é? Ai eu de novo vou trabalhar de serviços gerais em hospital pra bancar o custo do curso, mas o meu grande sonho é uma loja de cabelo.


CULT: Fale sobre essa depressão.
ALESSA: Eu sempre fui MUITO vaidosa, sempre gostei de me cuidar ao extremo, tive minhas filhas cedo, operei com 22 anos para não engravidar mais, pois queria ver minhas filhas e meus netos crescerem e ainda estar bem para desfrutá-los. Só que eu tive muitos problemas financeiros, eu caia, levantava, caia de novo, me levantava novamente e cada vez mais tinha que abrir mão do chamado banal. Isso foi acabando comigo. 


Eu me vi sem condição de manter meu cabelo, minhas unhas, fiquei sem pagar moradia, sem comer, sem me vestir decentemente, fiquei desempregada e fui no fundo do poço com direito a não sair da cama. Não comia, mau levantava para tomar banho.
Tem um ano que sai dessa depressão. Foi quando minha neta Alicia nasceu, eu meio que revivi. Fui ficar com minha filha na maternidade e as pessoas diziam que eu parecia a mãe do bebê e não avó. Fiquei ouvindo isso durante dias, de pessoas que não me conheciam,  não sabiam da minha depressão. Então eu comecei a buscar na religião uma saída, um acolhimento na verdade. Eu só fui acordar quando conheci o espiritismo através da umbanda. Fui muito acolhida, eu renasci.


Eu ate me senti muito bem com as declarações do povo todo, mas era mais que aparência, eu não me achava bonita, não tinha nada que fizesse eu me amar. 
Só depois de um tempo eu pude entender que nem se tratava de exterior, até porque a depressão é uma doença da alma.
Hoje sou uma mistura de menina e MULHER. Eu me reprimia por ser de família evangélica.


Aos 40 anos faço e vivo coisas que não tive liberdade pra fazer nem quando era solteira.
Eu trabalhar de auxiliar de serviços gerais num hospital de campanha do Covid. Lá eu vi muitas pessoas morrendo, pessoas bonitas, pessoas que lutavam pela vida e tinha uma vida legal. Que tinham tudo que eu queria ter, mas não tinha saúde, de poder desfrutar, por que não tinha condição física de levantar de uma cama, de sair de um tubo, e isso me ajudou muito a me entender como pessoa e ver o quão privilegiada eu sou, por estar viva, por ter saúde, por ter convivido no meio do covid assim que a pandemia começou e não ter me contaminado.


Eu perdi muitas pessoas que eu conheci. Meus vizinhos, tia, tio, amigos, acho que eu tive que passar por isso para da valor a vida.
Hoje me sinto bem, linda, uma plus size com os meus 87 quilos e 1,63 m de altura.
Cada vez mais eu to amando ser gordinha.


CULT: Recado para as mulheres que querem seguir seus passos e para nossos leitores em geral
ALESSA: Quem não gostar, que lute pra não ver o meu cabelo crespo e volumoso que cresce pra cima. Quem não gostar, que lute pra não ver a minha cor brilhar cada vez mais. 
Quem não gostar, que lute pra aceitar que minha cor não é sinônimo de sujeira.
Quem não gostar, que lute pra entender que eu sou o sonho mais ousado dos meus ancestrais. 


Quem não gostar, que lute pra engolir que podem me olhar de cara feia e eu não vou retribuir simplesmente por que que minha cara é linda!!!!
Aproveito para agradecer a Deus, meu marido e minha família por tudo que tenho e que sou, pela força e apoio que me dão, e agradecer a vocês da PR PRODUÇÕES e CULTURARTEEN pela oportunidade de estar falando sobre mim e abrindo portas para combatermos o racismo. Um beijo para todos os leitores.