Pacientes com tumores agressivos, que matam em poucos meses, ganharam mais tempo
Um brasileiro de 34 anos é o pesquisador responsável por um estudo inédito que revelou que a imunoterapia é capaz de tratar a forma mais agressiva de câncer renal. Nesse método, em vez de dar aos doentes drogas capazes de matar tanto o tumor quanto as células saudáveis — como faz a quimioterapia —, o médico "acelera o sistema imunológico dos pacientes", fazendo com que as células de defesa fiquem mais potentes e ataquem o câncer. Em sua pesquisa, Brandão monitorou, ao longo de um ano, a resposta de 60 pacientes de diferentes nacionalidades. E os resultados foram tão animadores que ele recebeu o prêmio de mérito científico da Sociedade Americana de Oncologia Clínica.
Existem dois tipos de câncer de rim: o de células claras e o de não claras, que é o mais agressivo e letal. Todos os pacientes que participaram da pesquisa sofriam deste último tipo, que costuma não responder a tratamentos mais convencionais e pode levar à morte em apenas três meses.
No entanto, após seis meses de tratamento com imunoterapia, 80% dos pacientes continuavam vivos. Ao final de um ano, 20% deles apresentaram redução dos tumores. O resultado foi surpreendente porque, até então, acreditava-se que apenas os cânceres de células claras poderiam ser tratados com a técnica.
— Mostramos que há um caminho diferente para abordar esses tipos de tumores. Agora, a indústria farmacêutica deve investir mais em drogas para imunoterapia, o que pode popularizar e baratear o tratamento — afirma o pesquisador.
Brandão é pesquisador da universidade americana Harvard e do Grupo Oncoclínicas, que atua em dez estados brasileiros. A pesquisa foi conduzida em parceria com outros pesquisadores nos Estados Unidos, Canadá, Espanha e Coreia do Sul.
TRATAMENTO CARO
No Brasil, o tratamento de imunoterapia para câncer custa, em média, R$ 50 mil por mês, e não está disponível no SUS. A abordagem é relativamente nova no país. A primeira droga do tipo foi aprovada pela Agência de Vigilância Sanitária apenas em 2012, mas o tratamento imunoterápico no Brasil começou a ser adotado com mais frequência a partir de 2015. Ele pode ser usada tanto para tumores de rim, quanto de bexiga e pulmão, além de melanomas e linfomas.
— O tratamento é eficaz para doenças que se desenvolvam por alguma falha do sistema imunológico. Diariamente, desde que somos bebês, nosso corpo produz células pré-cancerígenas. Mas elas são combatidas pelas células de defesa. Se, em algum momento, essa resposta de ataque não ocorre, o câncer se desenvolve — explica Brandão.
Nem todos os tipos de câncer respondem à técnica. Tumores de pâncreas, por exemplo, não regrediram quando tratados com imunoterapia. Mas nos casos em que há a alternativa, existem ganhos importantes para a qualidade de vida do paciente. A imunoterapia apresenta menos efeitos colaterais do que a quimioterapia. E os pacientes tratados com o método não sofrem com a perda de cabelo, a necessidade de isolamento e a fraqueza.
— Em oncologia, a medicina tem mais perguntas do que respostas. Então é uma alegria quando encontramos uma dessas respostas — comemora Brandão, que se tornou especialista em câncer há oito anos, depois de perder uma jovem paciente com câncer de mama, para a qual ele não conseguiu nenhum tratamento que desse resultado.