sábado, 25 de fevereiro de 2017

CARNAVAL 2017: Viradouro e Estácio se credenciam à briga pelo título na Série A

Modernidade e tradição polarizam disputa na primeira noite do grupo de acesso

Abre-alas da Viradouro trouxe Dominguinhos do Estácio à frente
de uma escultura gigante de um menino


Um duelo de campeãs. Na primeira noite da Série A na Sapucaí, Viradouro e Estácio de Sá, que já conquistaram o título do carnaval carioca na década de 1990, travaram uma disputa particular em busca do sonhado retorno ao Grupo Especial. As duas vermelho e branco apresentaram soluções estéticas díspares. A setentona de Niterói mergulhou no universo infantil e apostou em materiais leves, como a espuma, para fazer um desfile moderno e divertido. Enquanto a herdeira da primeira escola de samba seguiu o rumo do luxo para homenagear Gonzaguinha.

Em comum, a criatividade, que apareceu das comissões de frente ao último carro. O carnaval da Viradouro teve a assinatura de um estreante no no Sambódromo como carnavalesco, o jovem Jorge Silveira, de 36 anos.

Ex-assistente da comissão da Unidos da Tijuca, Jorge deixou de lado plumas e faisões. O estilo pop se sobressaiu em carros como o dos super-heróis, com Batmans e até um Super Homem que simulava um voo.

A comissão de frente, coreografado por Anderson Rodrigues, trouxe componentes fantasiados de Transformers. As crianças que assistiram a apresentação nas frisas estavam vidradas.

— Aquele é o meu carro! — gritava, empolgada, uma menina ao ver a alegoria dos doces.

— Olha o coringa! Que maneiro! — apontava um garoto para a fantasia de uma das alas.

O estilo, em muitos momentos, lembrou a marca da interação com o público impressa por Paulo Barros. Nessa linha, os componentes de uma ala coreografa capturavam um bicho papão em plena Avenida.

— Apostei na leitura fácil. Acho que acertamos em cheio — afirma Jorge, que também integra a comissão de carnaval da Dragões da Real em São Paulo.

APARÊNCIA DE ESPECIAL


Principal concorrente da Viradouro na primeira noite do grupo de acesso, a Estácio causou impacto logo no seu primeiro ato. A comissão de frente trouxe um tripé — recurso que voltou este ano à Série A — com um boneco gigante articulado que parecia ganhar vida e até tocar violão.

— Acho que a liberdade de escolha (de poder usar o elemento cenográfico) é o principal. A hora que eu não quiser ter, não terei — defendeu o coreógrafo Márcio Moura.

Alegorias de grande dimensão e fantasias cheias de detalhes deram à campeã de 1992 a cara de uma apresentação do grupo principal, do qual ela foi rebaixada em 2016.

— A escola se vê como do Especial. Por isso, o desfile foi grandioso. As equipes de barração e ateliê vieram mordidas com o resultado do ano passado — diz Tarcísio Zanon, carnavalesco ao lado de Chico Spinoza na agremiação do morro de São Carlos.

Os outros cinco desfiles da noite foram irregulares, mas conseguiram driblar a escassez de recursos. Em mais um carnaval de crise, plumas praticamente desapareceram da passarela. Deram lugar a penas falsas, perucas e tecidos nos esplendores e chapéus.

Acadêmicos do Sossego e Alegria da Zona Sul abriram a noite com homenagens a Zezé Motta e Beth Carvalho, respectivamente. Apresentaram a carreira das duas, mas também a militância de cada uma.

— Só fiz um pedido à escola: abordar a luta pela liberdade de expressão. Porque hoje não a temos no Brasil — disparou a madrinha do samba, que cantou a música “Vou festejar” no esquenta da Alegria.

Já o Império da Tijuca levou a história de um santo para a Sapucaí: São João Batista. Em uma tendência recente, apresentou imagens sacras sem suscitar polêmica com a igreja. Mas a escola pecou. Estourou um minuto no tempo máximo de desfile (55 minutos) e, de acordo com o regulamento, deve perder um décimo na apuração.

A União do Parque Curicica também pode ser penalizada. A musa Janaína Ribeiro desfilou com o corpo pintado e sem tapa-sexo, com a genitália a mostra. Com isso, a tricolor deve dar a largada na leitura das notas com um décimo a menos.

A Acadêmicos do Santa Cruz completou a noite. Assim como na Curicica e na Sossego, os mais atentos percebiam o reaproveitamento de esculturas de carnavais passados de outras escolas. No abre-alas da agremiação da Zona Oeste, por exemplo, passaram três centopeias que, em 2016, eram da Unidos da Tijuca.