A Vida de Vivien Leigh, a ilustre estrela de “E o Vento Levou” e “Uma Rua Chamada Pecado”
A atriz Vivien Leigh interpretou diferentes personagens dos mais cativantes da literatura - Scarlett O’Hara em E o Vento Levou, Blanche DuBois em Um Bonde Chamado Pecado e Ofélia, Cleópatra, Julieta e Lady Macbeth de Shakespeare. Como atriz, foi vencedora de um duplo Oscar, mais conhecida por suas mudanças repentinas e dramáticas de humor, assim como na vida real. Vivien sofria de transtorno bipolar, afetando toda a sua vida.
Se tornou Lady Olivier ao casar-se com Laurence Olivier e a partir de então sua dramática história de amor de Hollywood estava cheia de romance, paixão, violência, traição e desgosto. Vamos ver a sua bela e trágica história.
Primeiros Dias
Mais conhecida por fazer o papel da beldade do sul ou a “belle sul” Scarlett O’Hara, Vivian Mary Hartley nasceu em 5 de novembro de 1913, em Darjeeling, na Índia. Filha de Ernest Richard Hartley, um corretor escocês e Gertrude Mary Frances (nascida Yackjee), vinda da Irlanda. Ainda que alguns digam que Gertrude teria descendência indiana ou armênia. Mas, já que Vivian atuaria em Hollywood, era bom que ela mantivesse essa parte de sua herança perto de seu junto de si.
Seu primeiro papel como atriz veio aos três anos, recitando "Little Bo Peep" no grupo de teatro de sua mãe. Aos seis anos, Vivian, foi mandada para um colégio interno na Inglaterra. Sem a mãe como confidente, ela contou à amiga de escola Maureen O'Sullivan que um dia ela seria "uma grande atriz". Curiosamente, as duas amigas posteriormente se tornaram grandes atrizes e até estrelando filmes juntas. Deve ter algo nessa água!
Pais Positivo-Negativo
Por um período de quatro anos, quando ainda morava e viajava com seus pais, frequentou escolas em Bretanha, Biarritz, Paris e na Riviera italiana, fluente em francês e italiano. Retornando à Grã-Bretanha em 1931. Depois de assistir filmes como Maureen O'Sullivan, A Connecticut Yankee (1931) no West End de Londres, Vivian finalmente confessou suas ambições de atuação para os pais.
Logo depois, foi matriculada por seu pai na renomada Royal Academy of Dramatic Art de Londres. A jovem por fim iria cumprir a promessa de se tornar uma grande atriz se dedicando aos estudos. Mas foi só até abandonar a RADA para ficar com Herbert Leigh Holman, um advogado 13 anos mais velho que ela e que odiava teatro.
Mãe na Adolescência
O casal Vivian e Herbert se casaram em 20 de dezembro de 1932 e dez meses depois - aos seus 19 anos - ela deu à luz a sua única filha, Suzanne. Infelizmente, uma curta anotação foi deixada em seu diário registrando este, que dizia: “Tive um bebê - uma menina”. Puxa - obrigado, mãe! Voltando para casa, Vivian logo se viu frustrada da maternidade, já que uma empregada e uma cozinheira cuidavam da casa e Nanny Oake cuidava de Suzanne.
Como vimos pela falta de emoção no registro do diário, nada poderia interromper a carreira da de atriz de Vivian Mary Hartley. Durante as férias dela e Herbert em um cruzeiro, foi quando recebeu a notícia que havia conseguido um papel como figurante, ainda que sem créditos, no filme de comédia Things Are Looking Up de 1935. Ela fez as malas, deu um beijo de despedida no marido, desceu do navio e partiu para West End.
Mudança de Nome
No começo da sua carreira, seu empresário, John Gliddon, insistiu que o nome artístico “Vivian Holman” não funcionava. Na tentativa de encontrar nomes melhores, ela rejeitou todas as sugestões de Gliddon! Até que finalmente, chegaram a um acordo: seu novo sobrenome viria do nome do meio de seu marido, Leigh. Mudando também seu primeiro nome, de “Vivian” (com "a''), agora substituído ao muito mais atrevido “Vivien” (com “e”).
Escolhido o novo nome artístico, Vivien Leigh seguiria sua jornada para Hollywood, não importava o que acontecesse. O empresário Gliddon a recomendou ao produtor-diretor Alexander Korda como uma possível atriz de cinema, mas foi rejeitada por Korda, alegando que ela não tinha tanto potencial.
A Oportunidade Bate à Porta
Mal havia mudado seu nome e uma grande oportunidade apareceu. A bela jovem, de 22 anos, foi contratada para protagonizar a trabalhadora do sexo Henriette, na escandalosa peça teatral de Sidney Carroll, The Mask of Virtue. Sua apresentação foi um sucesso, recebeu aplausos estrondosos com direito a saudação de pé e bis, a crítica ficou encantada. Alexander Korda, também esteve na noite de estreia de sua apresentação admitindo que não poderia perdê-la, então rapidamente lhe concedeu um contrato para o cinema.
Uma visão do Daily Express destacou: “uma mudança relâmpago atingiu seu rosto”. Essa foi a primeira menção sobre as mudanças repentinas e dramáticas de humor que a tornaria tão famosa. O futuro premiado poeta John Betjeman a descreveu como: “a essência da juventude inglesa”. Toda essa popularidade lançou a atriz em direção a Hollywood. Mas a estrela em ascensão sentiu sua vida pessoal mudar drasticamente.
Ela Encontrou o Seu Romeu
Em 1935, ela viajou para assistir Romeu e Julieta, protagonizado pelo ator Laurence Olivier. Mal sabia ela que aquela viagem ao teatro mudaria completamente a sua vida. Enquanto assistia atentamente seu futuro Romeu, seu coração batia acelerado e logo depois confessando a uma amiga: “É com ele que vou me casar!”.
Naquela noite - em uma inversão de papéis Shakespeariano - enquanto Olivier aguardava uma nova entrada no palco, Vivien fugiu para o seu camarim para encontrá-lo. Eles flertaram e ela deu um beijo em seu pescoço antes de sair de lá. Agora como qualquer outro ser humano, Romeo ficou encantado com sua nova Julieta. Depois de Leigh insistir muito, John Buckmaster a apresentou oficialmente a Olivier no restaurante Savoy Grill.
Amantes Desafortunados
Todo o charme e magnetismo de Olivier encantou Leigh, logo os dois se tornaram amigos e colegas de palco, antes de embarcarem em um caso romântico. Ambos casados e com filhos pequenos - mas o coração falou mais alto. “Eu me odiava por trair Jill, mas… isso não foi apenas por luxúria. Era amor”. Escrito por Olivier após deixar a esposa Jill Esmond e seu filho Tarquin. Como Jill e Herbert, ambos não concederam o divórcio, então o casal da Grã-Bretanha, Leigh e Olivier mantiveram seu relacionamento em segredo.
A primeira presença dos dois juntos foi no drama elisabetano de fantasias Fire Over England (1937) onde transbordavam seus sentimentos dentro e fora da tela. Em cartas ele confessa que estava: “absolutamente apaixonado por ti, meu amor. Oh, Deus, como eu quero você. Talvez acariciando você minha querida”. E Vivien respondeu: “Oh meu querido, eu não fiz nada… Se nos amássemos apenas por corpos, suponho que estaria tudo bem. Eu te amo muito mais do que isso. Eu te amo com, oh, de alguma maneira especial de alma”. Mas seu amor logo deu lugar a tempos mais escuros.
Algo Ruim na Dinamarca
Em 1937, a vida começou a imitar a arte novamente. Leigh foi a Julieta de Shakespeare com Olivier sendo Romeo. Posteriormente também interpretou Ofélia ao lado do Hamlet de Olivier em Elsinore, na Dinamarca. Assim como a Ofélia de Shakespeare é levada a loucura pelas ações de Hamlet, Vivien também viveu um episódio horrível.
Quando Laurence entrou em seu camarim, ela repentinamente gritou com ele como um demônio e minutos depois permaneceu imóvel e em silêncio, olhando para o nada como se estivesse em coma. O terrível incidente abalou Olivier, descrevendo mais tarde seu comportamento como “um interruptor acionado”. A tempo, foi diagnosticada com transtorno bipolar, mas será que as ações de Laurence Olivier poderiam tê-la levado ao limite à la Hamlet e Ofélia?
Heathcliff, Sou Eu, Cathy! Estou de Volta
Tragicamente a doença da atriz piorou, mas sua ambição ainda era altíssima. Quando Olivier conseguiu o papel de Heathcliff em O Morro dos Ventos Uivantes (1939), sua amada Vivien exigiu que ela interpretasse Cathy. Mas o diretor William Wyler não aceitou e ofereceu a ela o papel de coadjuvante de Isabella. Ela respondeu irritada: “Vou interpretar Cathy ou não interpretarei ninguém”. O papel foi eventualmente para Merle Oberon. E Vivien passou seu tempo na Inglaterra, onde começou a apresentar ainda mais sinais da doença mental que tanto atormentava sua vida.
Enquanto isso, do outro lado da ponte, em Hollywood, Merle Oberon e Olivier se odiavam. Ao cuspir acidentalmente nela durante uma cena romântica na varanda, Oberon disse a Wyler: “Diga a ele para parar de cuspir em mim!”. E Olivier gritou de forma desprezível e irônica: “O que é um pouco de cuspe, para! pelo amor de Deus, entre atores? Sua idiota, como se atreve a falar comigo?”. A atriz começou a chorar, saindo rapidamente do set, fazendo o diretor Wyler obrigar Olivier a se desculpar, deixando Larry envergonhado e humilhado.
Determinação Demoníaca
Em 1937, enquanto Leigh se recuperava de um tornozelo quebrado, ela lia E o Vento Levou de Margaret Mitchell. Ao descobrir que o produtor David O. Selznick planejava adaptar o livro épico para o cinema, pediu a seu empresário que garantisse esse papel a ela. E como sabemos, ela faria qualquer coisa para atuar nesse roteiro. Até confessou isso a um jornalista: “Eu me lancei como Scarlett O’Hara”.
Selznick gostou muito da apresentação de Vivien em Fire Over England e A Yank at Oxford (1938), mas achou ela “britânica demais” para Scarlett O’Hara. Ele a deixou chateada e achando que não a veria mais… mas como um homem se engana! Como lembrou Olivier, Leigh perseguiu incessantemente aquele papel com “determinação demoníaca” e se mudando para a cidade de Los Angeles para convencer o produtor Selznick que ele havia errado na escolha.
Você é Uma em Um Milhão
Coincidentemente, o irmão mais velho de David O. Selznick, Myron, era o empresário de ninguém menos que Laurence Olivier. Assim, Vivien foi levada por Myron aos seu irmão mais novo: “Hey, gênio, conheça sua Scarlett O’Hara”. Myron estava convencido que Leigh era ideal ao papel. Vivien, no teste de adaptação, surpreendeu Selznick “incrivelmente selvagem” e finalmente o papel era dela.
No papel de Scarlett O’Hara, Vivien venceu estrelas de cinema de sucesso como, Joan Crawford, Bette Davis, Greta Garbo, Katharine Hepburn e Tallulah Bankhead. Mais impressionante também, ela foi a escolhida entre as mais de 1.400 outras atrizes enquanto Hollywood procurava sua deslumbrante Scarlett pelo mundo todo!
Fui com o Vento
E na produção de “E o Vento Levou” de 1939, quase ficou conhecido como “Fui com o Vento”.
O clássico adaptado para o cinema foi distribuído a quatro diretores e Victor Fleming ainda admitiu que parecia estar dirigindo um carro para um penhasco.
A maldição da produção se estendeu por meses, Leigh trabalhava exaustivamente 18 hora por dia, duas vezes mais que a co-estrela Clark Gable e ganhando míseros 20% do seu salário.
E para piorar, o produtor Selznick exigiu que Vivien estufasse seus seios para parecê-los mais pomposos. Que por fim, os prendeu com fitas para segurá-los.
Com toda humilhação e tensão que a havia cercado, Vivien começou a consumir excessivos quatro maços de cigarros por dia e pílulas para conseguir dormir.
Vivien começou nesse período a entrar em consecutivos quadros de ansiedade e depressão e além dos cigarros, começou a ser atraída pelo compulsão sexual: queria todos e cada vez mais!
E O Prêmio vai Para...
Os atores Vivien Leigh e Clark Gable estavam convencidos que E o Vento Levou era um desastre de bilheteria, mas surpreendentemente foi um sucesso de vendas de todos os tempos.
Todo o sangue, suor e lágrimas de Vivien valeram a pena. Aos 26 anos a jovem levou para casa o prêmio de Melhor Atriz em 1940. Foi a primeira atriz britânica a ganhar um Oscar, mas sua noite de sonho se transformou em um pesadelo.
Claro, ser premiado ao Oscar é uma das maiores conquistas na atuação, talvez justifique a irritação de Laurence Olivier quando viu sua garota ganhando o prêmio.
O que não é compreensível - e nem perdoável - foi o seu comportamento. De acordo com Tarquin, filho de Olivier com sua ex-esposa Jill, durante a volta para casa, seu pai arrancou o prêmio de Melhor Atriz das mãos de Vivien e a espancou com ele. Segundo ele, estava: “louco de ciúmes”.
Eles Finalmente Subiram ao Altar
Mesmo diante do comportamento violento dele, os atores Leigh e Olivier finalmente decidiram oficializar seus votos quando seus ex-parceiros Herbert e Jill concederam o divórcio. Assim, em 31 de agosto de 1940, eles se casaram em San Ysidro Ranch em Santa Bárbara, na Califórnia, com a presença da também ilustre Katharine Hepburn como madrinha. Mas junto ao casamento veio uma condição dolorosa, abrir mão da guarda dos filhos, como parte do acordo de divórcio.
Quando isso veio a público, os jornais americanos logo caíram sobre os Oliviers, chamando-os de desprezíveis amantes, pela traição de seus ex-cônjuges. Apesar disso - mesmo os Estados Unidos não entrando na Segunda Guerra Mundial por mais dois anos - foram cobrados de não voltarem à Grã-Bretanha em ajuda humanitária. O que eles esperavam, vangloriar Hitler e os nazistas até morrer?
Romeu e Julieta
Não bastasse, o primeiro investimento dos Oliviers foi um cálice envenenado. Juntos, investiram $40,000 em uma produção teatral de Romeu e Julieta na Broadway e os amantes desafortunados quase perderam tudo.
Críticos teatrais bombardearam a peça, tanto que o crítico Brooks Atkinson do jornal The New York Times escreveu: “Embora a senhora Leigh e o senhor Olivier sejam jovens belas pessoas, mal sabiam fazer seus papéis”. No entanto, a atuação e direção dos Oliviers foi alvo de vários elogios, outro crítico, Bernard Grebanier, comentou: “a delicada e fina qualidade que passou a voz de Miss Leigh”. Mesmo diante desse tapa, seu inalterado humor até então, começou a cair - e o transtorno bipolar que tanto perturbava Vivien estava por vir, mas antes disso, fizeram ações para ajudarem seus aliados a vencer a guerra.
Bravura de Guerra
Vivien não recebeu o papel principal em Rebecca, a Mulher Inesquecível (1940) dirigida por Alfred Hitchcock e recusou o papel principal ao lado de Larry em Orgulho e Preconceito (1940).
Logo depois, o casal Olivier estrelou Lady Hamilton, A Divina Dama em 1941. Com a Guerra ainda sendo vista como uma guerra europeia pelo país americano, este drama napoleônico da dupla foi incentivo de longos filmes de Hollywood, chamando atenção para uma visão mais pró-britânica.
Se tornou mais famoso e comum nos Estados Unidos e União Européia, embora não era o motivo das duas superpotências entrarem em guerra, mas colaborou na mudança da opinião pública.
O primeiro-ministro Winston Churchill - sofrido por uma terrível depressão - organizou uma festa que incluía o presidente Franklin D. Roosevelt. O então Primeiro Ministro exibiu o clássico ao grupo: “Senhores, pensei que este filme poderia interessá-los sobre os semelhantes acontecimentos àqueles que acabamos de participar”. Quando se tratava de Vivien, Churchill era pego dizendo: “Por Deus, ela é um fracasso”. De todo modo, os Oliviers, Winston e a primeira-dama Clementine, se tornaram grandes amigos pelo resto da vida.
Meu Único Amor Derivado Do Meu Único Ódio!
No decorrer da década de 40, o transtorno de Vivien foi se tornando pouco a pouco incontrolável. Seu empresário a descrevia, apoplética, sua voz se tornou “dura, ríspida, desdenhosa”, seus olhos frios “olhos de um estranho”. Após episódios de explosões, desmaiava e acordava, sem lembrar de absolutamente nada, nem de seus gritos, desmaios e colapsos.
Em março de 1943, os Oliviers saíram dos Estados Unidos e voltaram para a Grã-Bretanha. Laurence começou a fazer parte do Fleet Air Arm e Vivien recusa um contrato de $5.000 por semana para animar as tropas aliadas no Norte da África. Desde então a atriz ficou gravemente doente, seguidas por tosses e febres frequentes. Foi no ano de 1944, que ela foi oficialmente diagnosticada com severa tuberculose no pulmão esquerdo. Já internada no hospital por um tempo, supostamente enganada pelos médicos que havia melhorado, recebeu alta. Mas, anos depois veio à tona o grande erro.
Tragédia Shakespeariana
Depois de driblar a morte, Vivien reviveu sua carreira no cinema. Liberada por seu médico para voltar a atuar, ela se lançou em uma produção em Londres de grande repercussão The Skin of Our Teeth de Thornton Wilder. Mas havia mais infortúnios que chegariam a atriz.
Enquanto gravava outra tragédia de Shakespeare, César e Cleópatra (1945), Vivien escorregou e por um acidente a fez perder um bebê.
Toda a situação a fez entrar em uma escura e profunda depressão. No chão, em prantos, de soluços incontroláveis. Essa foi a primeira vez que ela não estava em atuação.
O casal já percebia o que estava por vir - dias seguidos de excessiva agitação, depressão e então, uma explosiva crise… compartilhados de constrangimento, vergonha e remorso.
Confusão
Ao que tudo indica, sua libido também foi afetada, com incontroláveis e agitadas perturbações em seus quadris! Na tentativa de satisfazer a sua compulsão, Laurence foi palco de enormes traições por Vivien, qualquer um que estivesse disposto, de motoristas de táxi a entregadores.
Mas, não podemos definir a vida de Vivien Leigh baseado somente em seu transtorno e confusão mental.
Ela era fabulosa, trilíngue, tocava piano e violoncelo, dançava balé, apaixonada pelas histórias egípcias e tinha uma ótima memória fotográfica. Habilidade essa, como um dom de Deus, já que ela memorizava com muita maestria todas as falas depois de ler a peça apenas uma vez.
Num mal dia, lia duas vezes! E fazendo tudo isso sofrendo do alcoolismo ou como chamavam, depressão maníaca.
Casamento Desmoronando
Laurence Olivier em 1947, se tornou, Sir Laurence Olivier e Vivien, Lady Olivier. Em 1948, partiram em uma incessante, mas bem-sucedida turnê de seis meses pela Austrália e Nova Zelândia, motivados a arrecadar fundos para o Teatro Old Vic em Londres. Exausta e atormentada pela insônia, Vivien então, teve seu conflito somente em Christchurch, uma ilha no sul da Nova Zelândia.
Vivien havia perdido os sapatos e se recusava a subir ao palco sem eles. Na frente de todos, Laurence a ofendeu e não bastasse, lhe deu um tapa no rosto. Revidando, ela devolveu com outro tapa e - segundos depois - “enxugou as lágrimas e sorriu brilhantemente”, subindo ao palco muito furiosa. Quando terminou a turnê, estavam extremamente cansados. Olivier ainda disse a um jornalista: “Você pode não saber, mas está conversando com zumbis”. Tempo depois, se deu conta que havia “perdido Vivien” enquanto estava na Austrália, mas achou algo.
Comportamento Inadequado Para Uma Dama?
Nas ilhas, Olivier descobriu o ator australiano e nascido na Inglaterra, Peter Finch. Rapidamente o ator produtor e diretor o convidou a subir ao palco com ele.
Finch ainda agradeceu a Sir Laurence por ele dormir com sua esposa. Sim, com as frequentes perturbações mentais de humor e desejo sexual que sofria Leigh, Olivier se sentiu aliviado por sua esposa ter conseguido outra pessoa.
O ano de 1948 foi o “annus horribilis” de Vivien. Certa de que seu casamento já havia se tornado uma farsa, ela concentrou esforços em sua importante saúde mental e no seu autocontrole. Nessa época, a doença, a infelicidade e o estresse se manifestaram de uma maneira ainda mais assustadora.
A atriz britânica, apresentou resmungos, delírios e cenas de insultos incontroláveis - um comportamento considerado na época como inaceitável para a reputação de um Cavaleiro Real.
Um Bonde Chamado Pecado
Em 1949, Vivien ganhou a frente a produção no West End em Uma Rua Chamada Pecado, de Tennessee Williams, vencedor do prêmio Pulitzer Prize (concedido às pessoas que desempenham um excelente papel na literatura, composição musical, jornalismo).
Seu desempenho recebeu boas críticas, mas com um alto preço por isso. Há muito poucos personagens literários que desenvolvem uma apresentação tão trágica, desesperados, torturados e condenados como foi com Blanche DuBois, após as 326 atuações, Vivien confessou que “interpretá-la quase a levou à loucura”.
Durante a filmagem da adaptação para o cinema de Elia Kazan em 1951, Williams afirmou que Leigh era “tudo o que eu pretendia e que nunca imaginei”. Leigh ganhou o BAFTA (Academia Britânica de Artes do Cinema e Televisão) e um segundo prêmio que ela usava para manter a porta do banheiro aberta!
Ainda que lutando com uma doença mental debilitante, Vivien ainda era irresistível. O co-estrela de Um Bonde Marlon Brando, estava interessado nela e era apaixonado por “unbeatable derrière”. Marlon só não se tornou um bom candidato por ser muito amigo de Sir Laurence Olivier.
Ela Perdeu a Cabeça
Na ilha Sri Lanka (anterior Ceilão), set de No caminho dos Elefantes (1953), mexeu tanto com Vivien que foi uma combinação de insônia, alucinações e paranóia que a levou a um quadro de crise nervosa tão intenso e grave que o estúdio Paramount foi obrigado a substituí-la por Elizabeth Taylor.
Com a volta de Sir Larry para “Blighty” (termo informal para Grã-Bretanha, antigamente usado por soldados de guerra), ela caiu nos braços de seu co-estrela e ex-amante Peter Finch. E algo terrível aconteceu.
Demitida, Vivien embarcou de volta para os Estados Unidos, durante o voo, de tão angustiada tentou se suicidar pulando do avião.
Em Los Angeles, gritou por horas em seu camarim. Sedada, foi encaminhada de volta para Inglaterra, onde - entre os longos momentos de incoerência - ela dizia estar apaixonada e ter relações com Peter Finch. Laurence, internou sua esposa em um hospício, recebendo inúmeras sessões dolorosas de eletrochoques.
Rumores Sombrios
Felizmente, a atriz foi se recuperando aos poucos em três meses, entretanto as brigas pessoais do casal, que eram julgadas manter em segredo, veio à tona com a internação de Vivien. Primeiramente por seus amigos, que sabiam dos transtornos de comportamento que ela sofria. E David Niven afirmou publicamente que ela estava: “muito, muito louca”.
Após sair do hospício, ela tentou uma nova presença em palco. Mas, não foi muito bem aceita por suas habilidades de atuação. No mal iluminado teatro, cochichavam em seus assentos as evidentes queimaduras em sua pálida e esquelética têmpora… marcas deixadas pelas pás de eletrochoque que recebia. Críticos ainda acusaram Olivier de subestimar os papéis no intuito de ofuscar a baixa performance de sua esposa. Pode o casal Oliviers terem sobrevivido aos escândalos, mas o casamento deles estava chegando ao fim.
Mais Tragédia
Em 1956, Leigh ganhou o papel principal South Sea Bubble, de Noël Coward, mas foi afastada ao anunciar durante a produção que estava grávida aos 44 anos. Mais incrível, o pai, era seu marido Olivier. Esse inacreditável milagre, fez Vivien acreditar que o casal havia recebido uma nova chance. Mas parece que os deuses tinham outros planos.
Passadas algumas semanas, enquanto se prepara para uma turnê na Europa com Titus Andronicus, Vivien teve mais um novo aborto. Assim como foi anteriormente quando havia perdido seu bebê, voltou a sombria depressão. Dessa vez, por meses. Ela ficou transtornada na Europa, ofendeu seu marido, a equipe de elenco e até se despiu em um parque público. Seu ex-esposo Leigh Holman decidiu morar com os Oliviers para tentar ajudar. Em um episódio de crise, ela atacou Laurence com uma toalha molhada, que levou a jogá-la do outro lado da sala. Duas décadas depois, a última crise de Vivien foi para Olivier o fator decisivo.
Sai, Perseguido Por Um Urso
No ano de 1958, com seu casamento ao fim, Vivien começou a se envolver com o ator, descolado, gato e pai, Jack Merivale. Sabendo de sua condição de saúde, prometeu a Laurence que cuidaria dela. Leigh apresentava frequentemente ameaças de suicídio. Olivier voltou a repetir: “Vivien está a vários milhares de quilômetros de distância, tremendo à beira de um penhasco, ainda que sentada na sala de estar”. Se divorciaram em 1960 e de acordo com a tradição inglesa, ficou conhecida como Vivien, Lady Olivier.
Agora divorciado, Sir Larry se casou com a atriz inglesa Joan Plowright, 22 anos mais jovem que ele. Tiveram um filho e duas filhas. Mesmo que ele tenha prometido que, “nunca mais amaria ninguém tanto quanto amou Vivien”, não daria para estar com ela com suas mudanças frequentes de humor. E assim, o poderoso casal antes inabalável, seguiu caminhos diferentes - mas - assim como na música do U2 - Vivien não conseguiria viver com ou sem Olivier.
Eu Não Consigo Viver Com ou Sem Você
Ela amava Jack Merivale e ele provou ser uma influência, mas não era Larry. Nem foi Leigh Holman, que - mesmo agora - ainda passava muito do seu tempo como quarta roda. Vivien confidenciou à amiga Radie Harris que “preferia ter vivido uma curta vida com Larry do que enfrentar uma longa sem ele”. Laurence escreveu uma carta sobre como ela lidou com o rompimento: “Você se saiu muito nobre, corajosa e lindamente e eu sinto muito, muito mesmo, deve ter sido um inferno para você”. Ele não tinha ideia como foi infernal para ela logo depois, tentou tirar a própria vida.
Na sua autobiografia, Olivier descreveu sobre as duas décadas que passou ao lado da sombra da doença mental de Vivien: “Diante de sua possessão pelo demoníaco monstro maligno, uma depressão maníaca, em suas espirais mortais, ela manteve sua astúcia individual - disfarçava sua verdadeira condição mental de quase todos, exceto de mim, por quem dificilmente conseguiria”.
Papel Marcante
Em 1963, Leigh estrelou o musical Tovarich. Sua atuação foi uma catástrofe. A atriz teve um colapso total, esqueceu suas falas, interpretou as canções três vezes mais rápido que o tempo normal, e até atacou seus colegas de palco, tudo isso em frente a uma casa cheia, com um público que pagou para vê-la. Ela ficou tão transtornada que precisaram anestesiá-la e mantê-la sob contenção. Sua linda, frágil mente dificultava a gravação de filmes a cada dia, mas A Nau dos Insensatos conseguiu causar uma boa impressão nos críticos, e Vivien conseguiu ganhar um Tony por sua atuação!
Vivien frequentemente entrava em suas crises de delírios e acabava brigando com seus companheiros artistas. Em uma dessas crises, após uma cena de ataque em A Nau dos Insensatos (1965), ela bateu tão forte com um salto alto no rosto do ator Lee Marvin, que o deixou com uma cicatriz permanente. Como resultado, A Nau dos Insensatos acabou sendo o último filme da carreira de Vivien Leigh. Ninguém podia imaginar, mas pouco tempo lhe restava.
Seu Verdadeiro Amor Corre para Estar Com Ela
Foi em maio de 1967, quando Leigh ensaiava para a peça Um Delicado Equilíbrio, de Edward Albee, que a tuberculose retornou para atrapalhar seus planos. Ela se recuperava em sua casa de Belgravia, um distrito em Londres. Mas nas primeiras horas do dia 8 de julho, Vivien teve muita dificuldade para se levantar da cama e usar o banheiro. Quando estava a caminho do cômodo, sofreu uma queda e foi sufocada pelo líquido que entrou em seus pulmões. Ao chegar lá, Jack Merivale encontrou Vivien Leigh já morta. Ela tinha 53 anos.
Sir Larry saiu com pressa do hospital onde estava se tratando de um câncer de próstata e foi correndo ver sua ex-esposa pela última vez. Prestando seu respeito a ela, ele ficou "de pé e rezou pedindo perdão por todos os males que havia caído entre eles" e permaneceu assim até removerem o corpo de dela. Olivier também ajudou Merivale a organizar o funeral de Vivien. Seus restos mortais foram cremados e suas cinzas jogadas no lago de sua amada casa de verão, Tickerage Mill, em East Sussex, Inglaterra.
Comoventes Homenagens
Quando a notícia sobre a morte de Vivien Leigh foi divulgada, os teatros de Londres fizeram uma homenagem que causou muita emoção.
Cada um dos teatros do famoso West Side (lado oeste) da capital inglesa desligaram as luzes de suas marquises por uma hora, em homenagem à memória de Vivien, Lady Olivier. Ainda assim, o tributo mais comovente ficou com o grande amor de sua vida, Sir Laurence Olivier.
Esse notável representante inglês das artes dramáticas morreu de falência renal em 11 de julho de 1989, em sua casa no West Sussex, aos 82 anos.
Mesmo depois de seu longo casamento com Joan Plowright, ele acendeu uma vela para Vivien pelo resto de seus dias. Pouco antes de falecer, Sir Larry assistiu um dos filmes de Viven. À medida que as lágrimas começaram a cair, disse apenas “Isso... isso era amor”. Ahhhh. Chorando? Não estou chorando… só caiu um cisco no meu olho...