“Quinze anos faz agora...”
“Toda menina que enjoa da boneca
É sinal que o amor já chegou no coração.
Meia comprida, Não quer mais sapato baixo
Vestido bem cintado
Não quer mais vestir timão.”
Assim diziam Luiz Gonzaga e Zé Dantas na canção ‘O xote das meninas’ de 1953. ‘Timão’ (que não tem a ver com o Corinthians nem com o 'grande volante' das embarcações) é uma vestidão largo que as crianças usavam. A puberdade chegava e, com ela, a garota se via moça, pronta para a vida social, potencialmente amorosa.
E que tal avisar à sociedade que a menina não é mais menina?
Pois é... No final do século XVIII, na Inglaterra, alguém teve essa ideia.
Numa época em que a pressão para se casar logo era considerável, a corte britânica resolveu realizar bailes chamados ‘coming-out party’ (baile de estreia).
Realizados na primavera, a proposta era a de anunciar que as moças já tinham idade suficiente para se casarem. Dependendo da influência da família, se poderia fazer a festa para uma única mocinha.
Tradicionalmente, o vestido é branco para demonstrar pureza. São indispensáveis a tiara, item da realeza, e o par de brancas luvas longas, símbolo de feminilidade da classe alta.
A aristocracia gostou da ideia e assim o evento se espalhou pela Europa. Na França, o nome ficou por ‘début’ (início, estreia) ou ‘bal des debutantes’ (baile de debutantes).
Dada a grande influência francesa, em português, no século XVIII, surgiu uma forte tendência em se preferir o verbo ‘debutar’ (vindo de ‘debuter’) em vez de ‘estrear’. Os gramáticos puristas daquela época ficaram uma arara! O filólogo português António Francisco Barata, por exemplo, no seu ‘Advertencias curiosas sobre a lingua portugueza’ (1870) afirmou que “‘Debutar’, que muitos dizem e escrevem, é tanto mais repugnante quanto nós temos o portuguezissimo verbo ‘estreiar’.” Xi! Coitado!!!
‘Debute’ não teve tanta popularidade por aqui, mas ‘debutar’ é empregado até hoje. Os portais de notícia trazem títulos como “‘Barbie’ debuta com excelente aprovação no ‘Rotten Tomatoes’” ou “Maria Eduarda debutou em um elegante baile de princesa” (numa dessas colunas sociais). Veja que ‘debutar’ pode significar ‘estrear’ ou ‘completar 15 anos’.
Originalmente, a debutante podia ter de 14 a 18 anos, mas na América Latina, o evento teve influência da chamada ‘Quinceañera’, vinda da tradição asteca de se apresentar a filha à sociedade aos 15 anos.
A tradição mudou e o baile de debutante deixou de ser uma cerimônia em busca de pretendentes para a filha.
As agências de eventos e festas, que não são bobas nem nada, deram uma roupagem moderna ao baile, tornando uma produção "hollywoodiana", com tamanha magnitude que já possível se gastar mais do que com uma festa de casamento.
Casar cedo para quê, né, gente? Hoje em dia, “ela só quer, só pensa em namorar”...
Texto adaptado por Pery Salgado baseado em ‘Le bal des débutantes comme si vous y étiez’,