Passei a vida mendigando aceitação.
Busquei nos olhares de estranhos um sorriso que nunca veio. Das bocas de desconhecidos nunca ouvi um agrado, um afago sequer de cumplicidade.
Passei a vida enxergando a vida dos outros, vivendo a angústia dos outros, flertando com os olhos dos outros.
Passei a vida, e a vida passa junto, vendo a vida passar. Vendo o tempo correr entre os fios das meias que não pude usar.
Não quero mais mendigar nada. Nem aceitação de quem nada me deve.
Levei uma vida para perceber que sou livre. Que minha existência tem de ser aceita, se não por amor, por desprezo.
Quero existir invisível, quero passar despercebida, quero ser eu sem ninguém. Não quero olhares, nem bocas assustadas procurando o que ofender.
Quero desprezo e passar batida entre os que agora são apenas figurantes da minha existência.