Em novembro, a direção do CEPT (Campus de Educação Pública Transformadora) localizado em Itaipuaçu (Maricá), o maior colégio da região dos lagos e da metropolitana II em tempo integral, organizou um magnífico evento para celebrar a semana da consciência negra e foram bastante atacados em redes sociais. Duas semanas depois, realizaram outro magnífico evento, com o mesmo escopo, porém voltada a cultura oriental, mais precisamente a cultura chinesa, e não sofreram nenhum tipo de contestação ou manifestação pejorativa. A diretora geral do complexo educacional, Professora Kátia Cruz fez na época a (tão atual) seguinte publicação:
"Vejam que coisa curiosa!
Fomos atacados nas redes sociais por conta da promoção de atividades para semana da consciência negra. Para tal, até mesmo em cumprimento a legislação, oferecemos oficinas diversas de pinturas e gastronomia, feitura de bonecas, cine debates, e apresentações culturais de dança, de luta (capoeira) e oficina de tambor.
Um pouco depois, realizamos o dia da China, uma vez que nos tornaremos uma escola do programa interfronteiras. Da mesma forma, oferecemos oficinas de culinária chinesa, demonstração de dança, luta e instrumentos tradicionais.
A pergunta é: por que com o dia da China não houveram problemas? Muito pelo contrário, elogios choveram. Olha, somos um Brasil x China, mas poderíamos ser um Brasil x Angola ou outra nação qualquer do continente africano? Acho que não, não é mesmo?
Curioso que a flauta chinesa é bastante utilizada em suas manifestações religiosas também, mas o tambor?! Ah não, o tambor é pura invenção do demônio! (???)
Deus nos livre desse tempo!"
Bum Bum Paticumbum...Tambores Ressoam e Culturas Ecoam: Uma Jornada da China à Diáspora Africana
No pulsar ecoante dos tambores, um anúncio ressoa, prenunciando eventos iminentes. Seja nas terras milenares da China, nas vastas planícies da África escravizada, ou nos cenários medievais da Europa, o tambor é mais que um instrumento - é um guardião da cultura, do povo e da nação que representa.
Surpreendentemente, o ambiente educacional, conhecido como um alicerce de conhecimento, foi vítima de ataque nas redes sociais devido à promoção de atividades para a Semana da Consciência Negra. É com profundo repúdio e consternação que nos dirigimos aos cidadãos, expressando nossa indignação diante das declarações preconceituosas e racistas recentemente proferidas por uma figura pública de Maricá. Tais comentários foram direcionados à apresentação de dança africana no CEPT Itaipuaçu durante a Semana Multicultural.
O CEPT em Maricá, comprometido com uma Educação Pública em Tempo Integral que busca transformar a sociedade, reflete sua missão no nome: Campus de Educação Pública Transformadora (CEPT).
A riqueza e diversidade da cultura africana merecem respeito inabalável, até porque nossas histórias se entremeiam e se confundem em vários momentos, várias situações há mais de 400 anos até os dias de hoje, repudiando atitudes que desrespeitam essas raízes e a história desse povo. Temos uma dívida social histórica com os povos africanos, contribuindo para a estruturação do racismo em nossa sociedade. A escola tem o dever não apenas de integrar, mas principalmente de intervir no status quo.
Além disso, a Lei 10.639/03 garante o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira em todos os espaços educativos, conforme a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) e a Constituição. A dança, o canto, a culinária, o artesanato e a pintura são representações artísticas que conectam o conhecimento potencial da cultura à experiência de vida dos alunos. Oficinas e atividades diversas, como pintura, gastronomia, criação de bonecas abayomi, cine debates, dança, luta (capoeira), culinária típica e oficinas musicais, como o Tambor, são oferecidas nesse sentido.
A descontextualização da apresentação de dança africana durante a Semana Multicultural é uma atitude repugnante do tal vereador, evidenciando ignorância e insensibilidade à diversidade cultural, prejudicando os esforços contra o racismo e a intolerância religiosa (sugiro que leiam o editorial do jornalista Pery Salgado sobre o assunto https://obaraoj.blogspot.com/2024/01/editorial-falta-de-conhecimento-nos.html).
Duas semanas depois deste magnífico e riquíssimo evento, o CEPT celebrou o Dia da China, uma festa da Cultura Chinesa, com a presença do Cônsul Comercial Chinês e da Diretora Pedagógica da Universidade Normal de Hebei na China, unindo ambas as nações como parte do Programa Interfronteiras da SEMED.
Assim como celebramos a cultura africana, também honramos a cultura milenar chinesa, pois vivemos em um Estado Livre, Laico e Democrático. Oficinas de culinária, demonstrações de artes marciais como KungFu, Taichi e Wing Chun, caligrafia e artes chinesas, além de dança, canto e instrumentos tradicionais, foram oferecidas durante a celebração (bastante parecido com o anterior, concordam?).
Uma reflexão se impõe: por que a cultura afro-brasileira é recebida com espanto e repúdio, enquanto outras culturas não enfrentam tal resistência? Por que aceitamos imposições culturais eurocentristas e hesitamos em valorizar nossas próprias raízes? Enquanto alguns reverenciam a bandeira americana, nós amamos e beijamos nossa própria bandeira, símbolo de nossas riquezas e identidade.
Que os tambores, sejam eles brasileiros, africanos ou chineses, não se calem. A verdade prevalecerá, libertando o povo maricaense da calúnia, do ódio e da intolerância.
Que Deus nos livre destes tempos sombrios!