O nome dela é Marli Costa (55), nascida no interior do Paraná, morou em um sitio até os 13 anos onde tomava banho de bacia e nos riachos e trabalhava nas lavouras de café com seus pais.
Aos 16 anos veio morar na cidade, mas continuou trabalhando na roça. Aos 17 anos, conheceu o amor de sua vida e tiveram um romance de 15 dias. E a partir deste amor, ela conta sua história:
"Em um sábado de aleluia fugimos e fomos nos esconder em uma fazenda, onde fomos encontrados por meus irmãos (Marli tem 12 irmãos - 6 moças e 6 rapazes - 'meus pais não dormiam, só namoravam', confidenciou Marli sobre muitos risos).
Fugimos então para a casa dos pais dele pois não tinha idade para casar. Ele precisava da certidão de óbito da mamãe dele pois ele perdeu a sua mãe com 8 meses de vida e foi criado só com o seu pai e a irmã.
Com 18 anos casamos no civil, com 20 anos tivemos nosso primogênito. Com uma vida muito humilde não tinha nem roupinhas para o meu bebê, mas com muitas lutas trabalhando na lavoura vencemos. Nosso bebê estava crescendo com saúde.
Com a dificuldade que passava, decidi que não queria mais ficar no Paraná, queria vir para o estado de São Paulo para perto dos meus pais, mas meu marido não aceitou minha decisão, ele não queria ficar longe do pai dele, foi aí que entramos em guerra.
Como ele era muito ciumento usei isso a meu favor. Falei: 'tô indo para casa da minha mãe, se você quiser vir vem, se não quiser, eu tô indo sozinha com nosso filho'.
Só que para isso eu precisava de dinheiro para passagem que eu não tinha. Ele disse que não vinha, eu corri atrás, fui até a prefeitura pedir uma passagem para o prefeito para vir para casa da minha mãe em Sertãozinho, interior de São Paulo.
Ganhei a passagem! Cheguei em casa não tinha mala, mas tinha uns sacos. Peguei o pouco de roupas que tinha, minha, do meu bebê que na época tinha 8 meses.
Foi aí que meu 'nego' chegou e se assustou: 'aonde você esta indo?' Falei: 'para casa da minha mãe, cansei de passa fome aqui. Olha não temos nem arroz.
E ele perguntou: 'vai como senão tem dinheiro?'
Foi aí que mostrei a passagem. 'Fui a prefeitura o prefeito me deu a passagem' falei para ele e ele não acreditava no que eu estava fazendo.
'Você deve ter enlouquecido' Ai com carinho eu falei: 'vamos comigo bem, lá é bem melhor, podemos deixar o nenê com a minha mãe e trabalhamos juntos.na colheita da cana.
Pronto, começamos os dois a chorar e ele falou então vai você, eu vou arrumar dinheiro e vou depois.
Na hora deixei a criança com ele e sai correndo e ele perguntava gritando sem entender 'onde você vai?'
Eu só olhei pra traz e continuei a correr, voltei na prefeitura implorando outra passagem e acabei ganhando do prefeito.
No outro dia às 5 horas da manhã, estávamos os três na rodoviária. Com vários sacos de roupas como falei (não tinha mala), enfim dentro do ônibus. Já bem no final da tarde já estávamos desembarcando no estado de São Paulo. Ali pegamos outro ônibus para chegar em uma usina onde meus pais moravam. Eu estava muito feliz, estava perto dos meus pais e o melhor, não ia mais passar fome. Fomos muito bem acolhidos pois meus pais também eram muito humildes, mas o que importava é que estava com eles. Depois de uns dois dias, meu irmão levou meu esposo na usina para ver se conseguia um serviço para ele e conseguiu graças a Deus. Estava empregado!!!
Arrumamos uma casa bem humilde pois não tínhamos móveis, só um colchão mas eu estava radiante pois eu também consegui um trabalho na usina. Fui cortar cana também. Não era lá essas coisas mas estava trabalhando e trabalho nenhum não me assusta, se tiver que carregar pedra eu carrego. Com 25 anos trabalhando ainda na lavoura de cana, engravidei e tive uma linda menina, minha princesa. Parei de trabalhar e cuidava só das crianças e meu esposo continuava cortando cana. A essa altura já tinha conseguido compra o básico para uma casa, fogão, cama e até uma mesa, mas não tinham geladeira nem TV, mas estávamos felizes pelo menos tinha comida.
Essa usina era na região de Marília. Saímos de lá e fomos para Bauru também em uma usina. Nós dois trabalhávamos e as crianças já estavam grandinhos, na escola rural e então eu já podia voltar ao trabalho.
De Bauru viemos para Ribeirão Preto onde estamos até hoje, também trabalhando no corte de cana há 22 anos. Eu parei de trabalhar na lavoura e comecei a trabalhar como doméstica, onde trabalho com muito amor. Tenho muito orgulho do meu trabalho e foi trabalhando assim que conseguimos comprar uma pequenina casa bem humilde, mas era nossa e agora compramos um apartamento, bem pequeno, do programa Minha Casa Minha Vida e hoje aos 55 anos posso dizer que sou uma mulher realizada.
Tenho 3 netos (um lindo garoto com 7 anos, uma princesa com 2 anos e minha caçula com 8 meses. Sou uma vovó muito babona, muito arteira, maluquinha, amo brincar, dançar, viver. Junto com eles nós 'faz e acontece', tocamos as campanhas dos apartamentos dos vizinhos e saímos correndo. Esses dia fui chamada na portaria do condomínio por que me viram pelas câmeras (risos). Sou muleca, adora uma bagunça, mas sempre respeitando todos.
TATUAGENS
Aos 46 anos fiz minha primeira tattoo, hoje tenho 35 espalhados pelo corpo, e sou muito feliz.
Bom, espero que tenham gostado pelo menos um pouquinho da minha vidinha, e deixo como recado para sempre serem felizes, sabendo superar os problemas, correr atrás, do lado e na frente. O choro é livre, mas o sorriso emoldura o rosto e faz mais bem. Vamos viver e crescer felizes!
Um beijo à todos os leitores do CULTURARTE e obrigado à PR PRODUÇÕES pela oportunidade de falar da minha vida para vocês. Que Deus nos abençoe sempre!!!