É interessante observar como o significado de certas coisas muda com o tempo.
O espartilho, com o chegar da modernidade no século que se passou, tornou-se símbolo da opressão a liberdade da mulher. A ousadia consistia em deixar de lado as medidas impostas ao corpo feminino até então. Hoje ironicamente só as mais ousadas se atrevem a usá-lo.
Por incrível que pareça, em meio a tanta modernidade e tecnologia, hoje, é preciso ser ousada para assumir a sensualidade de nossas curvas, que foram brutalmente suavizadas diante de tantos umbigos à mostra. E com isso foi se desfazendo a magia de insinuar, e só mostrá-las como prêmio a alguém especial.
Quase já não vemos mãos a desatar nós e a afrouxar cadarços. Ansiosas por tocarem a pele macia, que recobre o caminho cheio de montes e curvas que leva ao céu da mulher amada.
Em nossos dias a ordem das coisas foi invertida, chegamos antes da ida. E com isso nos privamos do prazer sensual do "Ir", que é sem dúvida, a etapa mais importante do “chegar”. Pois é o saber “Ir” que faz o "Chegar” valer apena! Por isso comprei o meu primeiro corselet. Sou o que sou sem culpa e sem medo da regressão a tempos que se passaram. Pois como passado que são... Não voltarão!
Sou apenas sou! E porque não ser assim? Não abro mão do poder que tem o “ir” das minhas curvas! O caminho que te levará a terra fértil que acolherá tua semente. Às vezes docemente, e outras em meio a abalos sísmicos que farão teu mundo tremer. Se me quiseres, é assim que sou. Não quero e nem posso ser diferente! É sem medo ou culpa que eu digo. Que para o teu... O meu prazer serei "Eu"... O deleite do meu bem.
Cinara Oliveira - poetisa e esteticista