- Se fosse minha filha, eu dava uma surra.
- Sem vergonha. Tinha é que botar para fora de casa.
- Cadê o pai agora?
Tudo isso a moça ouviu. Calada. Humilhada. Sem coragem para se defender. As pessoas julgam. Falam o que bem entendem como se tivessem esse direito. Não tem.
Num momento em que transar de primeira, sem compromisso, com o namorado ou não, é estimulado até na novela das seis e em Malhação, engravidar é apenas consequência. E o olhar de reprovação é cinismo puro.
É preciso lembrar que a adolescência é a fase em que somos absolutamente poderosos. Fantasiamos que nada acontece com a gente. No máximo com o vizinho ao lado. Impulsivos, pulamos de cabeça. Arriscamos como se não houvesse amanhã. E, em termos de tesão, a situação é mais grave ainda. Aí é como se não houvesse mesmo. Precisa ser naquela hora de qualquer jeito. E:
- Claro que umazinha não vai engravidar.
Muitos olham a menina grávida e dizem:
- Coitada.
Confesso, envergonhada, sou dessas. Eu sinto pena quando vejo. E vejo muito. Uma média de cinco a seis por ano em cada escola pública. Tenho pena porque acho que muitas experiências boas ainda estavam por vir. E um bebê interrompe as chances de estudar sem preocupação, se divertir sem horário.
Filho é emprego sem demissão. Sem folgas, sem férias. Só horas extras. Aquela viagem sem hora para nada, sem rumo definido? Dê adeus por longos anos. A praia até o por do sol, emendando na noitada? Esqueça. Aliás noitada é o que não vai faltar. Muitas, dias, meses seguidos. Um bebê sem sono, chorando, querendo assunto no meio da madrugada.
Lua de meI? Nunca mais. A relação já começa a três. Isso se começar. Muitas são abandonadas pelo pai da criança. E criam o filho sozinhas. Aí é mais duro ainda. Pais adolescentes raramente assumem o filho. Acontece. Já vi acontecer. Quase um em mil. O filho é da mãe.
Gravidez na adolescência não é vergonha. Talvez certa falta de juízo, de precaução ou de sorte. Na roleta russa do espermatozoide, você foi a escolhida. Mas quer saber? Filho é uma benção. Um presente de Deus. Luz no caminho. Força para qualquer parada.
Feliz é a família que larga de lado os preconceitos e as farpas dos mal-amados e recebe de peito aberto sua nova pessoinha. A família da moça foi assim. E a moça é feliz com seu filhote. Mas o que a moça questiona é a falta de uma preparação das pessoas que atendem a mãe adolescente.
Principalmente na rede pública. Um olhar de pouco caso. Uma falta de paciência. Já ouvi relatos de mães adolescente se queixando que as enfermeiras gritavam com as meninas. Eram impacientes. Chegavam a negar anestesia no parto.
- Aguenta aí.
Como se ela não merecesse o mesmo respeito que as outras. Por que não? É tudo mãe.
Parir dá medo. Eu morri de medo de ter os meus e já era burra bem velha. Imagine uma menina! São crianças tendo crianças. Um mínimo de empatia! Não é fácil, não.
Não tiveram filho na idade ideal? E que idade é essa? Eu tinha que sair correndo atrás dos meus e já não tinha fôlego. Invejava horrores as novinhas saltitantes cheias de facilidade. E o que dizer das mães que parecem irmãs? De ver um filho crescendo e ir crescendo junto?
Elas não têm experiência. Verdade. E quem de nós tinha? Filho é brinquedo de montar. Sem manual de instrução. A gente que se vire. E a gente não se virou?
Mães adolescentes têm a coragem que a idade permite. São mais descoladas. Mais furonas, mais dispostas para a vida. Podem ser excelentes mães. Já vi ótimas.
Bebê nascido, mãe de licença na escola. Ok. E depois? Como estudar? Com quem deixar o bebê? Mais uma vez falamos das desfavorecidas. Que não têm dinheiro para pagar babá. Que não têm vaga em creches. E acaba interrompendo a vida escolar por conta disso. Muitas sem terminar o primeiro segmento.
É preciso olhar com mais carinho para nossas mães grávidas. Abandonadas pelos namorados, ficantes, pelo Estado. Preparar um mundo onde elas se sintam amparadas. Acolhidas. Porque são mães. Disseram sim. Assumiram essa vida nova. São mulheres valentes. Mais que isso, são pequenas mulheres gigantes. Merecem nosso respeito.
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Por: Mônica Raouf El Baye