Beatriz Souza (26) conquista a primeira medalha de ouro do Brasil em Paris. Em campanha memorável na Cidade Luz, judoca ouviu o hino nacional no topo do pódio após bater a israelense Raz Hershko. Conquista reforça protagonismo das mulheres nas últimas edições olímpicas.
O aguardado primeiro ouro do Time Brasil nos Jogos Olímpicos de Paris 2024, enfim, está anexado ao quadro de medalhas. E ele veio da fonte mais poderosa de conquistas do país no evento de maior prestígio do esporte, o judô, com base na força feminina. Na tarde desta sexta-feira (2/8), Beatriz Souza alcançou a eternidade dourada com uma campanha praticamente impecável. Em dia memorável, o topo do pódio veio contra a israelense Raz Hershko.
Nos Jogos do protagonismo feminino — a equipe verde e amarela tem mais mulheres do que homens pela primeira vez —, a primeira conquista dourada do Brasil não poderia ser conquistada de outro jeito. O ouro também confirma a ascensão delas evidenciada em outras edições olímpicas. Coincidentemente, os primeiros topos de pódio em Londres-2012 e Rio-2016 foram conquistados por judocas: Sarah Menezes e Rafaela Silva. Com a prata de Willian Lima (66kg), o bronze Larissa Pimenta (52kg) e o ouro de Beatriz Souza (+78kg), o esporte chega à 27ª medalha olímpica.
A luta pelo ouro, Bia entrou de branco sob aplausos da torcida. Em boa quantidade, os brasileiros fizeram questão de tentar fazer a diferença no duelo. O confronto entre as judocas foi imediato. Enquanto procurava o encaixe do golpe, a atleta verde e amarela tomava cuidados defensivos. Com 44 segundos, aplicou um waza-ari, com um O-soto-guruma. Mesmo em vantagem, seguiu combativa. A postura minimizava os riscos e possíveis punições. Na reta final da luta, as duas receberam shiddos. O tempo parecia eterno, mas foi controlado na tranquilidade da atleta do país para ser eternizado.
A trajetória de Bia rumo à medalha olímpica foi gloriosa. Participando pelas primeira vez de uma edição de Jogos Olímpicos, não se intimidou com as adversidades ao longo do caminho e acumulou vitórias memoráveis. Na estreia, a brasileira precisou de apenas 41 segundos para aplicar harai-goshi e vencer a nicaraguense Izayana Marenco por ippon. A tranquilidade deu confiança à judoca verde e amarela.
Nas quartas de final, viveu momento com certa polêmica. No Golden Score, a sul-coreana Kim Hayun partiu ao ataque e engatou um golpe arriscado. Primeiro, a arbitragem marcou ippon para a asiática. Na revisão, mudou a decisão e sinalizou waza-ari e vitória de Bia. Na semifinal, veio duelo mais difícil. Além de ser a atual número um do mundo, a francesa Romane Dicko lutava com o apoio da torcida. Mas isso não se refletiu no tatame: sofreu um ippon no golden score, a prorrogação do judô.
Durante o ciclo olímpico rumo a Paris-2024, Beatriz Souza havia demonstrado bastante potencial de se tornar uma medalhista olímpica. A judoca de 26 anos foi campeã do Grand Slam de Baku, no Azerbaijão, e do Grand Prix de Linz, na Áustria. Em Mundiais, faturou pratas nas edições de 2021 e 2023. Agora, está na eternidade da modalidade no país, com a medalha conquistada nos Jogos Olímpicos da França.
Medalha de ouro, Bia Souza tem marca de roupas plus size: 'Criada depois de um desabafo'
A primeira medalha de ouro do Brasil nas Olimpíadas de Paris veio nesta sexta-feira, dia 2, com a judoca Beatriz Souza, a Bia, de 26 anos. Ela, que compete na categoria de 78 kg, viu no esporte um meio de sobrevivência, mas também de recuperar a autoestima.
"Na infância, eu não ligava para o que achavam do meu corpo. Mas isso mudou na adolescência, quando passei a me destacar por ser muito grande e muito alta, principalmente se comparada às amigas pequenininhas. Eu me sentia desconfortável, porque não sabia como lidar, nem me aceitava. Foi uma fase difícil. Observando as pessoas à minha volta, na minha categoria, e com a minha principal adversária técnica, Maria Suelen Altheman, eu aprendi que a melhor coisa que poderia fazer por mim era amar meu próprio corpo. E, assim, simplesmente me acostumei a gostar dele. O esporte me empoderou e mostrou o poder gigantesco que tenho dentro de mim", disse a atleta à "Glamour", em julho.
Fazer as pazes com o espelho a ajudou também a pensar além da própria carreira. E investiu em uma marca de roupas plus size, após desabafar com a cunhada a insatisfação com as peças de roupa que encontrava.
"Eu sou sócia de uma loja de roupas com minha cunhada: Nega chique. São roupas plus size, tamanhos grandes. É muito difícil pra gente, que é grande, tem costas largas, não só por ser mais gordinha. O tamanho G de uma loja de departamento não entra no meu braço. Eu queria muito achar loja roupa grande que coubesse em mim, me fizesse me sentir bem e não fosse feio. Não quero comprar roupa grande com estampa de vovó. Minha cunhada gostou da minha ideia, depois do desabafo que fiz, e ela me chamou para ser sócia", disse Bia ao canal "Podsport", no ano passado.