Rainha da Independente Tricolor sobre vaga no Grupo Especial: 'Tudo é festa'
'Sou viciada em adrenalina, não tenho limites.'
Helena Soares, 35 anos é rainha de bateria da escola Independente Tricolor há quatro anos, escola que subiu do Grupo de Acesso para o Grupo Especial e será a primeira a desfilar na noite desta sexta, 3, no Anhembi, pelo desfile das campeãs do Carnaval 2017. Além de rainha de bateria, Helena é piloto de rally, advogada e mãe de três filhos, Mayara, 19 anos, João, 17 anos e Luis, 14.
"Eu sou viciada em adrenalina. Gosto muito de motor e carro, então o rally juntou duas paixões, que é dominar um carro e velocidade. Eu não tenho medo, corro de moto, carro, pulo de para-quedas. Não tenho limites", diz ela, que é a única mulher da modalidade carros super production.
"Por muito tempo fui café com leite e não incomodava, mas de cara me colocaram como musa do rally e isso incomodou. Falavam que eu estava lá para aparecer, que não corria nada, que só queria ser capa de revista. As mulheres dos pilotos me odeiam", conta Helena.
'Conquistei meu lugar'
Helena já compete há dez anos. "Fui vice-campeã brasileira em 2014 e fiquei em quarto lugar no Rally dos Sertões em 2015. Terminei a prova com a mão quebrada durante 100 metros, mas continuei e terminei a prova. Eram 60 competidores e eu não queria perder os sete dias de competição que eu já tinha feito. Passei muita dor, mas meu troféu está lá. O preconceito que eu enfrentava não existe mais. Conquistei meu lugar", diz ela.
"A gente enfrenta temperatura de até 50 graus no carro. Chego a andar 500km por dia em estrada de terra, no calor, com aquela adrenalina, fora o perigo que a gente enfrenta", conta ela, que ainda manja de mecânica e faz toda a manutenção do carro que compete, uma Mitsubishi L200.
Rainha de bateria
Foi através do rally que Helena se tornou rainha de bateria. "O rally foi tema de enredo da escola em 2012, quando me chamaram para ser rainha de bateria. Eu era musa da X-9 Paulistana na época. Foi um mundo que se abriu para mim, comecei a entender o samba e percebi que eu tinha de ser fiel a só uma escola. Eu não penso em sair da independente", diz ela.
Helena está fazendo aula de samba para fazer bonito na avenida. "Gosto muito de samba, procuro me aperfeiçoar. Este ano senti uma saudade maior de aprender a técnica. Tem um protocolo a frente da bateria, que tem de ser apresentada para o público. Mas ali é onde realizo uma paixão. Mesmo não tendo todo um samba no pé, fui recebida com respeito. Hoje mesmo fiz duas horas de aula de samba", conta ela.
Tapa-sexo e problemas com anabolizante
Na busca pelo corpo perfeito, Helena teve problemas de saúde no ano passado. "Tive hepatite medicamentosa por conta do uso de anabolizante e quase não desfilei. Eu perdi muito peso e massa magra. Este ano acordei para a saúde. Essa busca por corpo sarado pode não acabar bem. Eu não posso mais ter o mesmo ritmo de atividades físicas e suplementação, mas desencanei de estar com o corpo perfeito. Acho que a gente vai perdendo a noção nessa busca, quer sempre mais e mais. A insegurança e a vaidade vão fazendo a gente cometer loucuras."
Ousada, Helena foi para a avenida com tapa-sexo. "Eu estava bem segura porque desde que entrei no mundo do samba sempre desfilei mais coberta, superar a timidez era um obstáculo. Este ano graças a Anthara Gold, minha estilista, fui de tapa-sexo para a avenida. Minha preocupação era não ser vulgar e acho que conseguiu porque famílias e crianças aplaudiram e elogiaram. Minha roupa é toda banhada a ouro, com cristais trazidos da Rússia. Era uma linha tênue de estar com uma roupa ousada e surpreender pelo lado positivo", analisa.
O desfile das campeãs na sexta, porém, não teve tanta pressão. Helena curtiu na avenida a subida da escola para o Grupo Especial. "É a conquista de um sonho. A gente percebia que a escola estava estruturada, mas ainda temos pouco tempo de estrada. É tudo festa, a gente entrou na avenida sem a pressão, com festa."