Jornalista, poeta, professora e pintora.
Olá, gente! Hoje, na coluna Simpatia e Quase Amor da Tv Diversidade, temos a honra de falar sobre uma das maiores figuras literárias do Brasil: Cecília Benevides de Carvalho Meireles. Uma mulher que brilhou em várias áreas – jornalista, poeta (nunca poetisa, como ela mesma preferia), professora e pintora –, deixando uma marca eterna na história cultural do país.
Nascida em 1901, no bairro do Rio Comprido, no Rio de Janeiro, Cecília cresceu em meio a desafios que moldaram sua sensibilidade. Apesar das adversidades, transformou sua dor e solidão em uma arte singular e atemporal. Entre as suas inúmeras obras de relevância, há reflexões que tocam a alma, como esta:
"Se num instante se nasce e num instante se morre, um instante é o bastante para a vida inteira."
Essa frase é uma janela para a profundidade de Cecília Meireles: uma mulher serena, determinada, mas também doce e meigamente assertiva.
Mas hoje, vamos além da análise comum. Deixaremos que a narrativa seja ditada por ela mesma, revelando a essência de quem foi Cecília Meireles:
"Nasci três meses depois da morte do meu querido pai. E perdi minha amada mãe antes dos três anos.
Essas e outras mortes ocorridas na família me deram, desde pequena, uma tal intimidade com a morte que, docemente, aprendi essas relações irremediáveis entre o efêmero e o eterno.
Em toda a minha vida, nunca me esforcei por ganhar, nem me espantei por perder.
A noção ou o sentimento da transitoriedade de tudo é o fundamento da minha personalidade."
Cecília nos oferece aqui uma perspectiva única sobre sua existência. Desde cedo, ela encarou as perdas com uma aceitação que transcende o entendimento comum. Essa relação íntima com a efemeridade moldou sua obra e sua vida.
Sua infância, muitas vezes solitária, também foi um terreno fértil para o nascimento de sua imaginação poética:
"Minha infância de menina sozinha deu-me duas coisas que parecem negativas e foram sempre positivas: silêncio e solidão.
Área mágica, onde os caleidoscópios inventaram fabulosos mundos geométricos, onde os relógios revelaram o segredo do seu mecanismo e as minhas bonecas o jogo misterioso dos seus olhares fixos, mas reluzentes.
Mais tarde, foi nessa área que os livros se abriram e deixaram sair suas realidades e seus sonhos, em combinação tão harmoniosa que, até hoje, não compreendo como se possa estabelecer uma separação entre esses dois tempos de vida, unidos como os fios da seda ou dos algodões."
A clareza e a beleza das palavras de Cecília Meireles revelam um universo interno rico e profundo, onde o cotidiano e o mistério coexistem em perfeita harmonia. Esse olhar único também se reflete em sua visão sobre o tempo e o espaço, como vemos em outro trecho:
"Agora permita que eu feche os meus olhos, pois é muito longe e tão tarde. Pensei que era apenas demora, e cantando pus-me a esperar-te.
Há uma doce luz no silêncio, e a dor é de origem divina.
Permita que eu volte o meu rosto para o céu maior que este mundo, e aprenda a ser dócil no sonho como as estrelas em seu rumo.
Há uma água clara que cai sobre pedras escuras e que, só pelo som, deixa ver como é fria.
Há uma noite onde passam grandes estrelas puras. Há um pensamento que se forme numa alegria.
Há um gesto acorrentado, uma voz sem coragem e um amor que não sabe onde anda o seu dia.
E a água cai, refletindo entre elas, céu, folhagem e uma lua nova, que sempre aparece no mistério do sem fim.
Ao observar a delicadeza com que descreve a vida e a natureza, podemos perceber sua sensibilidade quase etérea, mas sempre profundamente humana. Cecília Meireles foi uma observadora minuciosa do universo, capaz de transformar as pequenas cenas do cotidiano em reflexões universais.
"Equilibra-se um planeta, e no planeta, um jardim. No jardim, um canteiro; no canteiro, nasce uma violeta. E sobre ela, o dia inteiro, entre ela e o planeta, voa a asa de uma borboleta. No mistério do sem-fim."
Assim, encerramos essa singela homenagem à inesquecível Cecília Meireles, uma mulher que traduziu como poucos a beleza da vida, a inevitabilidade do tempo e a eterna dança entre o efêmero e o infinito.
FONTE/CRÉDITOS: CLÁUDIO GALVÃO TV Diversidade