Nossa mulher do ano em 2016 é linda, talentosa e levanta importantes bandeiras de reflexão da sociedade.
Depois de um dia de gravação, Taís Araújo entra Michele no camarim montado na mansão na Barra que serve de locação para a série Mister Brau – fêmea alfa, figurino gritante, curto e colado, high heels, uma peruca cacheada de vida própria. E sai Taís – elegante, discreta, calça de alfaiataria, blusa de seda e bolsa de couro em tons claros, sandálias de corda e jaqueta bomber. Os cabelos presos num coque. Sempre com o celular na mão, checando mensagens e redes sociais, no caminho até o carro.
Até chegar à posição de destaque no time A da TV Globo, ela foi a primeira protagonista negra em uma produção contemporânea da casa, a novela Da Cor do Pecado, de 2004, sete anos depois da estreia na extinta TV Manchete, no papel de Xica da Silva. “Eu tinha 17 anos, era uma menina virgem ainda!”, e dá uma gargalhada à la Taís.
“Mais discurso do que bunda”, como a própria se define, Taís ocupa hoje um papel fundamental na sociedade: o de mulher inspiradora no cerne da luta, na ordem estabelecida por ela mesma, pelos direitos das mulheres negras, da mulher – “Há um abismo entre as negras e as brancas” – e pelos direitos humanos.
“Eu sei que esses assuntos são chatos, densos, pesados, difíceis”, quase se desculpa nossa musa maior de 2016, “mas têm de ser discutidos. É a minha questão pessoal, da qual eu escolhi falar: eu sou uma mulher brasileira negra”. Ela conta que foi criada para “não pensar nisso, mas para estudar, trabalhar, ser alguém”.
Diz que andava de cabeça baixa na escola por ser lá a única criança negra, mas que foi entender isso somente mais tarde. O ponto de virada: o nascimento dos filhos. “Até o João (Vicente, 5 anos) eu já tinha meus posicionamentos, mas não a coragem de dar a cara a tapa. Maria (Antônia, quase 2) me deu um combustível enorme para fazer mais, trabalhar mais, lutar mais.