segunda-feira, 10 de novembro de 2025

8 mil dias seus, e agora?

 Sabe quantos dias tem uma vida dos 60 aos 82 anos? Aproximadamente 8 mil.


O mesmo tanto que você viveu da infância até a maioridade. A mesma quantidade de dias entre o primeiro passo e o primeiro emprego. Entre o boletim da escola e a carteira assinada. 8 mil dias.

Mas enquanto os primeiros 8 mil são tratados como fase de crescimento, de potência, de investimento, os 8 mil dias depois dos 60 são jogados no balaio da "aposentadoria". Como se esse tempo fosse um longo estacionamento antes da partida final. Como se depois dos 60, tudo fosse só repetição, lentidão e espera.

A gente normalizou essa ideia torta de que a vida adulta termina no café da manhã do aniversário de 60 anos. Passou dali, já é “melhor ir com calma”. Como se o corpo tivesse prazo de validade, e a alma, data de vencimento.

É curioso como a sociedade se empenha em colocar os 60+ numa prateleira do “já deu”. Quando, na real, é exatamente aí que muita coisa começa a fazer sentido. É nesse pedaço de tempo que muita gente tem liberdade, maturidade, autonomia financeira e uma sede danada de fazer o que nunca pôde.

Mas sabe o que ela encontra? Um mundo que fala baixo com ela. Que chama de "fofinha" a mulher que decide voltar a estudar. Que acha “bonitinho” o homem de 65 que quer abrir um negócio. Que oferece curso de bordado, chá de camomila e grupo da melhor idade como se todos quisessem ser tratados como porcelana antiga.

8 mil dias, mais de 190 mil horas, mais de 11 milhões de minutos.

E ainda tem gente achando que é tempo demais pra quem “já viveu tanto”.



E se fosse o contrário? E se esse tempo fosse justamente o mais precioso? O mais livre? O mais lúcido?

E se fosse a hora de desobedecer as expectativas e escolher um caminho novo?

O que você faria se soubesse que ainda tem 8 mil dias pela frente?

Ou melhor… por que ainda não começou?


Texto adaptado: Pery Salgado (jornalista)
Imagens: arquivo CULTURARTE
Realização: PR PRODUÇÕES