"Em um mundo cada vez mais automatizado, onde compramos sozinhos, pagamos sozinhos e vamos embora sozinhos, as feiras livres permanecem como um dos últimos redutos da verdadeira conexão humana. É curioso perceber que, enquanto tudo ao nosso redor caminha para o digital e para o individual, as feiras continuam pulsando vida, vozes e olhares.
Lembro-me de quando voltei de São Paulo, já acostumado com a frieza das compras online e da pressa das gôndolas de supermercado. Conversei com um rapaz que falava com entusiasmo sobre ir à feira do Alecrim. Perguntei, quase sem entender: "Mas por que você não compra as frutas perto da sua casa?" Ele, sem hesitar, respondeu: "Você tá maluca? Vou perder a alegria de falar com o feirante?"
Na época, aquilo me pareceu exagero. Hoje, duas décadas depois, entendo cada palavra. Vivemos um tempo onde até as relações amorosas são mediadas por inteligências artificiais. Tudo ficou mais prático, mas, talvez, também mais vazio. A feira, com seu chão irregular, seu som de vozes cruzadas, suas mãos que se encontram ao passar o troco, é um dos poucos lugares onde ainda podemos nos lembrar que somos humanos.
Ali, entre as barracas, o tempo desacelera. As pessoas se olham, perguntam, indicam, contam piadas, negociam. Existe algo de ancestral nessa troca: é o rastro dos nossos que vieram antes, é a continuação de um ritual coletivo que nos impede de nos transformarmos em ilhas ou, pior, em amebas que apenas sobrevivem conectadas a telas.
Voltar à feira é, no fundo, uma forma de resistir. É insistir no encontro, no abraço, no bom dia. É escolher estar presente em um mundo que insiste em nos afastar. Talvez seja o último fio que nos conecta ao que realmente importa: o outro.
Já foi a feira hoje?
Ahhhh!!! Em Maricá também tem feiras excelentes!!!